sexta-feira, 2 de maio de 2008

Seio: vida, fertilidade e ignorância


O seio que alimenta será o mesmo que inspira desejos, aumenta a libido, provoca prazer e deixa-se ocupar por mililitros de silicone? È essa minha dúvida que a muito passou pela minha mente quando lá no início desse novo século dissertava sobre a Literatura e Freud. Em meio às leituras do “Pai da Psicanálise”, descobri o inconsciente e dele brotou diversos conceitos que até hoje permanecem engalfinhados nesses mares de incertezas. E não sou eu que vou chegar a um denominador comum, mas existem situações que merecem o nosso repúdio e a escrita é uma ferramenta eficaz e duradoura, agora peço licença aos meus leitores para usá-la nessa batalha contra a ignorância.
Há dias uma passageira que amamentava seu filho, num dos inúmeros vôos atrasados do País, foi impedida de embarcar rumo ao seu destino. Motivo: estava amamentando seu recém-nascido em uma das poltronas de um avião. Foi denunciada por uma senhora que se encontrava ao lado do esposo (da mulher que amamentava) e ficou indignada com a cena. Tratou logo de chamar as aeromoças e pediu para que providências fossem tomadas. A mãe foi orientada a cobrir os seios e consequentemente o rosto do bebê; donos de uma atitude sensata o casal decidiu que não cobriria os seios para não tapar ao rosto do recém-nascido. Foram obrigados a descerem do avião e impedidos de embarcarem.
As quantas andam a nossa ignorância: dessa senhora que não queria ver a mãe amamentando o filho recém-nascido e daqueles que conduziam aquele vôo... Um desgaste desnecessário, pois o gesto da amamentação transcende o ato de sexualidade (contrariando alguns psicanalistas) e vai em busca do contato afetuoso entre mãe e filho, momento de entrega em que a mãe doa o seu leite, misturado ao sangue, aos nutrientes que alimentam, aqueles que alicerçam a vida, garantem um futuro vigoroso e saudável ao mais novo cidadão. O ato de amamentar demonstra a beleza e riqueza da vida (quantas mães choram ao verem seu leite secar e seus bebês na insuficiência de serem alimentados). Pobre daqueles que encaram tal gesto de vida como um atentado aos bons e velhos costumes. O seio é a mais pura demonstração de fertilidade, o canal primeiro entre mãe e filho. O afeto começa através desta atitude.
Talvez o que tenha passado pela cabeça dessa senhora seja a perfeição estética do seio que amamentava, sendo a comparação inevitável: “Como eu dona de mililitros de silicone não tenho seios tão perfeitos?”; “O que faz o meu cirurgião?”; “Na próxima semana tratarei de realizar uma nova cirurgia e dessa vez é definitiva: quero os meios seios como o desta mãe que muito me incomodaram”. Dar o peito ao filho é um gesto de ternura e afeição e os seios flácidos são conseqüência de uma vida regrada ao culto exagerado à beleza. Mulheres que não engravidam pensando em não causar danos estéticos ao corpo, permanecerão aborrecidas, estressadas, siliconadas o resto de suas vidas. Tapadas ao ponto de não enxergarem a ligação entre as vidas.

Nenhum comentário: