quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Uma Lenda Viva da Escrita Brasileira

Semana passada um amigo meu, o João Dall, acabou sendo internado vítima de algo que ainda carece de explicação. Não sei bem o que aconteceu, mas já imagino o que tenha motivado a internação do moçoilo. Calma, não é nada do que vocês devam estar pensando, as drogas não fazem parte dos pratos ingeridos por este meu amigo, seu cardápio, ainda, é selecionado, não ingere qualquer porcaria. E beber também, vive aos goles de água. Coca-cola só tomou quando pequeno, vítima da imprudência de seus pais. Assim também aconteceu seu batizado na Igreja Católica, contra sua vontade. Não lhe deram o direito de escolher quando menor, agora o garoto esbanja afrontas à religião do Papa Bento XVI e a qualquer serviçal seguidor do Edir Macedo.
A última vez que o vi, antes de sua internação foi em um bar aqui da Zona Sul, ele tomava a sua água natural, da torneira, preferia que a mesma não fosse gelada, pois tiraria seus nutrientes, e eu arriscava uns goles de gim. Lá pelas tantas saí, deixei-o declamando suas poesias, já estava cheio de tanta falta de rima. Sou daqueles poetas arcaicos, sou contra a corrente primeira do Modernismo Brasileiro, não admito poesias sem rima, acredito em Patativa do Assaré, mas continuo sendo contra Mário de Andrade e toda a sua corrente. Ele permaneceu firme, ardendo em tantos argumentos, inspirava os poetas menores, era aclamado pelos poetas maiores e aqueles que não se encaixavam em nenhuma dessas categorias também o adoravam.
E olhem que ele foi um caso complicado desde sua infância. Foi expulso de um colégio jesuíta por não aceitar a corrente de Santo Inácio, incitando outros garotos a contrariarem as opiniões hierárquicas daquele estabelecimento de ensino; passou pela escola pública, mas no grêmio da escola motivou uma manifestação contra o presidente Collor (na época aclamado pela população brasileira) e por intervenção de um sobrinho do presidente, que estudava no colégio, foi pedido a se retirar, caso contrário somaria mais uma expulsão no seu currículo.
Acumulou em sua história envolvimento com mulheres casadas, sendo ameaçado de morte pelo marido de uma delas, que na época atuava em um setor importante da Polícia Federal. Denunciou o caso para a polícia (a ameaça de morte), mas foi forçado a retirar a queixa e deixar sua cidade. Partiu para o interior onde conheceu diversos subversivos, ex-integrantes de grupos comunistas do passado, que ainda conservavam os resquícios da barba de Marx. Procurou integrar-se a esses partidos novos que estavam surgindo e ganhando força. Foi do PT, passou para PSDB, tentou o PSTU e acabou no PCO. Mas foi nos escritos que teve suas maiores glórias: escreveu três livros no ano de 1998 e ganhou o Prêmio Jabuti. Foi coroado com o título de “Poeta dos Desempregados”. Nunca trabalhou, apenas viveu de seus escritos. Era considerado um vagabundo perante a nossa sociedade. Teve suas peças encenadas. José Celso foi quem mais se identificou com sua obra e a levou para o mundo através de seus belos espetáculos. Com as novelas definitivamente se consagrou. Foi contratado pela Rede Globo de Televisão e no horário nobre foi logo emplacando duas telenovelas. Assim como os leitores o consagraram, os telespectadores também aprovaram seus escritos.
Semana passada soube da sua internação, mas não sei o motivo e exijo explicações. Como podem desaparecer com uma lenda viva da escrita brasileira?

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