domingo, 23 de agosto de 2009

A chuva, os garis e a impureza do mundo


Hoje ao acordar pela manhã noto uma nebulosidade dantes poucas vezes apreciada por nossa população. O dia estava escuro, as nuvens navegavam baixo, com uma rapidez de causar inveja a qualquer velocista. Da janela do quarto me impressiono com o fenômeno, sinal de que vai chover. Mas não é aquela chuva típica, calma, tranqüila, poética; é água “brava”, agitada, que desce com muita força. Machuca àqueles que resolvem sair mesmo carregando um guarda-chuva. O vento sopra a muitos quilômetros por hora.
Poucos são os que se arriscam nessa aventura dantesca, apenas os que necessitam trabalhar aos sábados como os garis, preconceituosamente denominados de lixeiros. Esses podem ser aclamados como heróis. São valentes, destemidos, não possuem medos das doenças, mesmo muitas vezes tendo que pegar os lixos dos fétidos humanos sem às luvas. Podem ser considerados imprudentes, mas não são como vocês que se encontram na escuridão da podridão, falecendo mesmo vivendo por não prestar atenção ao seu semelhante.
A chuva escorre pelas faces cansadas e suadas, envelhecidas pelo trabalho físico desgastante. O lixo lança o seu odor despertado pela umidade. E eles mesmo assim carregam a podridão rumo ao seu destino para receberem o lixo de salário ao final do mês. São poucos os carregam essa profissão como um orgulho, pois a sociedade os despreza. Beldades dos lixos saíram, uma catadora de um “lixão” que apareceu em uma novela global, intitulada “Da cor do pecado” hoje brilha nas passarelas do mundo e quem não conhece o popular “Renato Sorriso”, que ao final dos dias de desfiles carnavalescos no Rio de Janeiro aparece limpando o lixo deixado pelo ser humano e ao mesmo tempo exibe-se em uma performance digna dos perfeitos passistas.
Pois é, a chuva descarrega toda a sua ira e os garis ainda perambulam pela cidade limpando a cidade das impurezas deixadas por aqueles que se intitulam cidadãos civilizados.

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