quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os brasileirinhos

Cheguei a casa por volta das doze horas e trinta minutos e lá estava minha esposa inerte perante as notícias veiculadas pela TV: jovens de uma escola da cidade do Rio de Janeiro, do Realengo, foram vítimas da insanidade de um jovem de 23 anos, ex-aluno deste mesmo colégio, que com duas pistolas abriu mais de cem tiros contra discentes entre doze e catorze anos. Até o momento em que rascunho estas mal traçadas linhas, perplexo com tanta violência, foram onze mortos, dez são meninas, e mais de treze feridos.

As imagens veiculadas pela internet, captadas por câmeras internas do colégio, demonstram a calma e paciência de um crime articulado, resultando em várias mortes, inclusive a do assassino insano.

De fato, a escola que seria um lugar aprazível, naquele local, tornou-se um parque de guerra, um mar de sangue, um ambiente marcado por uma história que não se apagará. Os estudantes voltarão a sentar nas mesmas cadeiras, mas a todo instante lembrar-se-ão de seus colegas, companheiros, que por anos compartilharam segredos, discutiram assuntos, insistiram na mudança de professores, brigaram pela merenda, reclamaram dos próprios colegas. Porém nunca imaginaram serem vítimas da insanidade humana. Ali, a bala do traficante e seus comparsas que seria o maior perigo tornaram-se ínfima diante desta tragédia. Fala-se em seguranças cercando nossos estabelecimentos de ensino, mas este não é o momento para a aplicação de métodos arcaicos e ineficientes, a família é em que devemos nos concentrar e na articulação de medidas cabíveis a estruturação desta parte vital da nossa sociedade. Pais não podem se isolarem em seus casulos confortáveis e aceitarem que seus filhos, cada vez mais pratiquem atos violentos contra outros colegas considerados diferentes; nem mesmo o próprio genitor pode apoiar esta atitude, necessitamos de medidas punitivas e educacionais cabíveis a estes delinqüentes, que se espelham em seus modelos (pais).

Este fato lamentável deve ser a gota d’água para a mudança de paradigma: não seremos violentos, porém não podemos acompanhar passivos a transformação paupérrima de nossa sociedade, e a escola, assim como outros aparelhos ideológicos, não podem comportar situações deste tipo. Vale lembrar aqui o poema “No Caminho com Maiakówski”: “Assim como a criança/ humildemente afaga/ a imagem do herói,/assim me aproximo de ti, Maiakóvski./Não importa o que me possa acontecer/por andar ombro a ombro/com um poeta soviético./Lendo teus versos,/aprendi a ter coragem./Tu sabes,/conheces melhor do que eu/a velha história./Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor/do nosso jardim./Enão dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:/pisam as flores,/matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia,/o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa,/rouba-nos a luz, e,/conhecendo nosso medo,/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada./Nos dias que correm/a ninguém é dado/repousar a cabeça/alheia ao terror./Os humildes baixam a cerviz;/e nós, que não temos pacto algum/com os senhores do mundo,/por temor nos calamos./No silêncio de me quarto/a ousadia me afogueia as faces/e eu fantasio um levante;/mas manhã,/diante do juiz,/talvez meus lábios calem a verdade/como um foco de germes/capaz de me destruir./Olho ao redor/e o que vejo/e acabo por repetir/são mentiras./Mal sabe a criança dizer mãe/e a propaganda lhe destrói a consciência./A mim, quase me arrastam/pela gola do paletó/à porta do templo/e me/pedem que aguarde/até que a Democracia/se digne aparecer no balcão./Mas eu sei,/porque não estou amedrontado/a ponto de cegar, que ela tem uma espada/a lhe/espetar as costelas/e o riso que nos mostra/é uma tênue cortina/lançada sobre os arsenais./Vamos ao campo/e não os vemos ao nosso lado, no plantio./Mas ao tempo/da colheita/lá estão/e acabam por nos roubar/até o último grão de trigo./Dizem-nos que de nós emana o poder/mas sempre o temos contra nós./Dizem/nos que é preciso/defender nossos lares/mas se nos rebelamos contra a opressão/é sobre nós que marcham os soldados./E por temor eu me calo,/por temor aceito a condição/de falso democrata/e rotulo meus gestos

/com a palavra liberdade,/procurando, num sorriso,/esconder minha dor/diante de/meus superiores./Mas dentro de mim,/com a potência de um milhão de vozes,

o coração grita - MENTIRA!”.

Como disse a nossa Presidenta da República: “Infelizmente estes brasileirinhos não verão o futuro”. Que medidas sejam tomadas para que os demais brasileirinhos vejam o Sol nascer amanhã, mais belo, menos escuro, sem essa mancha vermelha que atola o Ensino brasileiro e nossa sociedade.

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