quarta-feira, 30 de maio de 2007

Escrevo, logo existo!


É no momento da escrita que sinto minha existência. Existo, logo escrevo? Escrevo, porque existo. Sou matéria. Sonho. Saio do momento planejado e me concretizo. Viajo pelos rios, sinto o cheiro da mata, salvo vidas, alimento aos animais; pelos homens peço perdão, às mulheres dou razão.
Procuro um mundo justo, cujos seres não se atropelem. Onde a água não seja poluída; onde as garotas não sejam prostituídas. Onde a discriminação racial seja algo cometido em um passado eternamente distante. Sou homem, mulher, mendigo, rei, passarinho, menino, empregado, patrão; sou bicho, sou irmão. Embriago-me na paixão, mas quando vem a solidão...
Escrevo para ser feliz, para atingir aos leitores vorazes, dotados de muita sensibilidade e que me ofereçam críticas. Nada caminha sem a interferência do semelhante. Aposto no processo modificador da espécie humana através da escrita, do texto bem elaborado, da palavra empregada corretamente, dos mais belos e fantásticos pensamentos. Sou aquilo o que eu escrevo.
Através da escrita posso viajar sem pagar, posso conhecer lugares dantes nunca imaginados; posso mergulhar pela vida alheia sem ser chamado de fofoqueiro; posso empregar as mais diversas e adversas opiniões que depois as justifico como produtos da ficção. Faço presente nas mais variadas e imponentes celebrações. Acabo provando dos doces e quitutes mais apetitosos, mas não deixo de perambular dentre os desfavorecidos – esquecidos pelo poder público.
Tento dar conselhos, mas muitas das vezes não sou ouvido. Fazem-se de surdos. Calam-se quando peço sua atenção. Sou ignorado, procuro o silêncio e me faço na escrita. Construo-me da escrita. Da tinta da caneta, do cheiro do papel, do corpo do texto. Nasço. Sou eu. É você. Somos nós. É um texto. É a escrita. Faço-me existir.

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