terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Isolado ao Fogo do Inferno

Já passavam das nove horas da noite quando recebi a notícia: Mirina falecera vítima de suicídio. Essa atitude para mim sempre será estranha, a pessoa atentar contra a própria vida. E não me atenho em fundamentos religiosos que ignoram os aspectos psicológicos passando a conceitos emanados pelo lado divino, renegando o real estado do ser humano isolando-o ao fogo do Inferno.
Quem me deu a trágica notícia de que minha amiga atentara contra a própria vida foi sua filha, a única herdeira de uma herança deixada pelo seu avô materno, pai de Mirina. Pensei que Jessé, segundo marido da suicida, era quem daria aquela trágica informação, mas não, o anúncio foi bradado pela filha, que não era do casal, mas do segundo casamento de Mirina. É sempre doloroso para os filhos darem uma notícia como essa, até pela estrutura emocional de um adolescente que pouca experiência tem em se tratando dos aspectos vitais; essa incumbência deveria centrar-se ao pai (padrasto) com mais maturidade e um currículo de vida enorme. Já era o seu terceiro casamento. Separações que até hoje ficaram sem explicações. Não para mim que era amigo da família e não me importava em saber os detalhes sórdidos daquela relação conjugal, mas a sociedade pedia uma justificativa. E, também, não teriam direito de saber, pois essas atitudes não passam de fofocas.
No velório lágrimas brotavam dos olhos daquela jovem filha e escorriam pela sua face como um mar em total agitação. As amigas do colégio a consolavam, seu padrasto meio que distante era cumprimentado pelos amigos que dariam as condolências e lá ao fundo dormia a urna funerária com o corpo da falecida.
Meses depois do acontecido (não me lembro ao certo, acho que foram três meses) lá estava pai (padrasto) e filha viajando pelas praias catarinenses, soando-me como uma lua-de-mel. Mas como desconfiar de uma relação paternal, estabelecida desde os primeiros meses da filha de Mirina? Ela era um bebê quando o padrasto casou-se com sua mãe e a adotou como filha. Não desconfiaria jamais daquela situação, essas são cenas cinematográficas, na vida real não acontecem. Alguns amigos já me disseram que a vira dançando intimamente com o padrasto em festas, até beijos flagraram, mas como não os vi usufruindo a liberdade que conquistaram, não posso afirmar, deixar minha opinião transparecer. Só sei que enquanto eles dançam, bebem, utilizam o dinheiro da herança, para a Religião a suicida continua a vagar pelas brasas do fogo do Inferno, isolada, sem comunicação.

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