quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Professor: refém do abandono familiar

Semana passada o meu amigo Antônio, professor de Física, residente na cidade de São Paulo, graduado pela USP, ligou-me muito nervoso. Fiquei preocupado, pois o docente sempre me telefona feliz, alegre, com notícias que me enchem de alegria.
Desta vez o caso era trágico. Recém-formado e com pouca experiência, o jovem professor começou a lecionar na periferia paulistana, até aí nenhum problema, pois a burguesia fede. O problema foram às várias ameaças de morte que recebeu. Jovem, bonito, é considerado um rival aos jovens daquela escola; arranca suspiros das adolescentes. Ele não dá bola, prefere ministrar suas aulas a ter que se envolver com as alunas, um pouco mais novas que ele. Mas na semana passada foi agredido fisicamente, tomou um tapa na cara e não quer mais voltar à sala de aula. Estava triste, chorara, pedia-me conselhos. Que situação! Tão jovem e sofrendo com as veredas modernas da educação. Pedi que se afastasse da sala de aula e procurasse refletir sobre o ocorrido, mas comigo pensava: se ele realmente gostasse da profissão jamais a abandonaria. Acredito no seu retorno.
Leio nos jornais do estado de São Paulo que em uma escola de prestígio na capital paulista, com mensalidade no valor de R$1.200,00 os alunos botaram fogo em uma sala, um quartinho que guardavam alimentos, queimando inclusive um faxineiro que se encontrava no local. Os discentes confessaram o crime, foram convidados a se retirar do colégio, mas os pais dos garotos (14,15,16 anos) não acreditam na versão oferecida pela direção da unidade escolar particular, preferem dar voz aos seus filhos, alunos do colégio.
Aqui no interior de São Paulo dois meninos de uma rede de escolas particulares soltaram duas bombas no cesto de lixo de sua classe. O resultado foi a perda da visão de um aluno e queimaduras, pelos estilhaços, no rosto do professor de matemática. O docente terá que se submeter a algumas cirurgias plásticas, já o discente ficará cego. Em que mundo estamos vivendo? Com que cidadãos estamos convivendo? Que sociedade estamos alimentando? Que futuros pais nós formaremos? Talvez menos capazes do que os que aí estão, pois para educarem seus filhos não foram capazes.
O que a família se esquece é que os colégios, escolas foram feitos para ensinarem aos seus pupilos conteúdos curriculares atípicos ao “bom” pai e “boa” mãe, mas não se furtará quando o assunto for educação. Julga-se que para estar em um colégio o discente seja educado (este que nasce e cresce no lar) daí o professor caberá a tarefa de ministrar os conteúdos estabelecidos para o convívio em sociedade, para ascensão profissional, sua capacidade de interpretação dos diversos tipos de linguagem, enfim o aluno será preparado empírica e academicamente. E aos pais o que resta? Educar seu filho. Revisitar os valores antes estabelecidos. Voltar a cultivar a formação familiar; não aquela de antes: pai, mãe e filhos, qualquer formação que possua o cultivo dos valores morais, a criação de regras a serem respeitadas, metas a serem cumpridas. A criança de hoje não sabe pensar, porque não há mais estímulo, tudo está pronto; o jovem de hoje não tem limites porque as regras foram burladas e os genitores ficaram na “janelinha” olhando a banda passar.
O professor virou refém do abandono familiar.

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