quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um autor para seu texto

Quando acordou parte do texto estava figurando na tela de seu computador. Quem havia digitado os escritos que ainda não acontecera? A janela encontrava-se aberta como de costume, o copo com água em que depositava sua dentadura ali ficara. Apesar de jovem, 40 e poucos anos, os dentes já haviam sido baleados pelo excesso de bebidas, cigarros e falta de higiene bucal. Nenhum sinal no apartamento de que alguém ali entrara e mexera em algo.

O dia foi chegando ao seu final e o escritor sem explicação alguma. Apenas o texto começado contando detalhes da história que gostaria de escrever. Apenas havia imaginado, mas algo fora roubado. Publicaram seus escritos, e não terminaram, muito antes do jovem escriba lançar-se a tarefa de digitar sua idéia.

Suspense. Intrigado partiu rumo a explicações antes de continuar e finalizar o texto digitado por outro ou seria outra? Alma do outro mundo. Nada disso cercou seus pensamentos. Talvez uma tecla mal (ou bem?) apertada e lá apareceram detalhes de textos inéditos que havia projetado no passado e não terminara. Mas o texto era o que ele tinha em mente e não escrevera, apenas pensara. Idéias atrapalhadas. Suspeitos? Apenas ele. Sua mente, talvez.

Aquele dia se fora e nada aconteceu. O texto ficou salvo em seus documentos, na pasta textos inéditos e dali não saiu. Ele também não mexera. Esperou por soluções, estas que o mesmo teria que tomá-las. Pensou, refletiu e decisão nenhuma foi capaz de achar um autor. Autor do seu próprio texto? O texto foi apenas imaginado. Mas quem seria capaz de deixar digitado na tela do computador um texto que o autor apenas idealizou e almejaria escrevê-lo? A decisão já estava tomada: não tomaria nenhuma decisão. Continuaria a escrever. Naquele mês não escreveu, os jornais pediam seus textos, revistas queriam entrevistá-lo para saber por que havia se escondido. Era um jovem talento da escrita brasileira e seus textos eram complexos, exigindo atenção dos seus leitores. Sabia ler o que os leitores desejavam. Brincava com a imaginação, dava vida às idéias mais latentes, despejadas nos orifícios mais profundos da mente humana. Dava vida aos pensamentos mais obscuros que um ser humano pode ter. Bebeu nas águas freudianas. De lá tanta devaneio. Tanta utopia. Tantos sonhos. Muita inspiração.

O texto estava quase concluído, pensado pelo escritor e digitado nas telas do seu computador por algo, alguém, ninguém... Pensou no final, por um momento teve a sensação de que algo fora soprado no seu ouvido, mas apenas a voz da imaginação. Talvez se fosse junguiano seria mais convicto nesses pensamentos extraídos de almas. Surpreendente. Difícil de imaginar. O autor concluiu o texto, mas não quis publicá-lo.

Hoje, depois de 50 anos de sua morte, veio-me a idéia de publicar a história utilizando-me de elementos ficcionais a fim de dar um basta aos escritos que encontrei nos porões daquela biblioteca, pois essa voz aqui no canto da minha orelha direita não para de sussurrar clamando pela publicação.

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