sábado, 20 de fevereiro de 2010

A velha Olivetti e meu computador

É chato dizer isso, mas não posso me afastar da verdade, pura realidade. Esta semana perdi meu computador por quatro dias, necessitava de formatação e lá fui eu levá-lo a uma loja especializada. Dois dias mais ele permaneceu sob internação. Cuidados especiais. Resultado: deixei de escrever minha seção semanal num outro jornal da cidade e não escrevi mais crônicas ou qualquer outro tipo de texto. Parece comodismo, mas não é! Há exatos oito anos, lembro-me muito bem que mandava meus artigos escritos à Olivetti. Isso mesmo, meus amigos leitores. Escrevia e pedia para o mototaxista entregar no jornal. Sei de escribas que ainda hoje escrevem à mão e entregam nos nossos jornais para assim serem digitados. Isso é muito bom, seguem à moda Ariano Suassuna, que até hoje tem medo de computadores, não viaja de avião e faz as próprias ilustrações de seus livros.

Senti-me impotente, escrevi em alguns blocos que carrego, registrei as idéias na conta telefônica já paga, mas não tive a coragem de outrora, pegar a máquina de escrever empoeirada e datilografar o meu artigo. Com certeza o mototaxista o entregaria e o pessoal do jornal não se furtaria em digitar o que a Olivetti concluíra. Mas não, optei por esperar, deixar os amigos leitores sem minha seção semanal e escapar algumas idéias. João Ubaldo Ribeiro diz que não consegue mais ficar sem escrever suas crônicas, mas agora só escreve com a ajuda de seu computador. Escrever manualmente ou através das velhas máquinas de escrever é algo pertencente ao passado. É esta a firmação do imortal.

Às vezes não percebemos, mas estamos sendo furtados. Roubaram nossa criatividade; cercearam nossa liberdade; apagaram as luzes da vontade. Graças à tecnologia, que não se distancia mais, não nota que está incomodando, permanece firme e forte, pois há os que a defendem com unhas e dentes. Sem ela ficariam estáticos, impossibilitados de conseguirem se comunicar. Tinha um colega em Porto Alegre que para se comunicar com uma secretaria que ficava após abrir a porta tinha que chamá-la via MSN, não tirava a bunda da cadeira por nada. Mas quem o favorecia? A danada da tecnologia. Não seria hipócrita em afirmar que a tecnologia é um estrago há humanidade, mas tenho lá minhas restrições, só que também fui levado por esse tsunami tecnológico.

Há casos como o povoado onde foi filmada a minissérie “Grande Sertão: Veredas”, que há vinte e cinco anos, quando as cenas baseadas na obra de Rosa foram tomadas, eles não conheciam energia elétrica, não tinham contato com a TV, nem mesmo conheciam os artistas Toni Ramos (Riobaldo) e Diadorim (Bruna Lombardi) e perderam a oportunidade de ver a emocionante cena em que Riobaldo observa Diadorim morta, nua e descobre o seu verdadeiro sexo. Quanto arrependimento naquele momento... Enfim, não me subtrairei do meu destino, continuarei aqui escrevendo, se estiver com o computador melhor, mas se ele insistir em não escrever, paciência...apelarei à boa e velha Olivetti, afinal foi ela quem me deu a oportunidade de datilografar o meu primeiro texto.



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