sábado, 29 de maio de 2010

Olhe a cara! Cadê o coração?

Na fronteira entre o Brasil e Paraguai, vendem-se fardas policiais (é pleonasmo?) para aqueles que não exercem essa função. Como os vendedores identificam os pseudopoliciais? Pela cara, afirma um dos donos do estabelecimento comercial. Olha-se o sujeito da cabeça aos pés, analisa o tipo físico, se o rosto apresentar um “ar” sisudo, carregado, com o bigode, o uniforme é vendido; caso seja identificado, pelos trejeitos, como bandido, os policiais (?) são acionados e o “acusado” detido. “Quem vê cara, olha para o coração?”.

Certa vez olharam para os meus óculos, analisaram o meu corpo delgado e exclamaram: “Você é um professor!”. Estava identificado e marcado: fui classificado – era um docente. Outra vez a senhora da locadora olhou-me e achou que pelo fato do meu pai ser branco e eu negro não seria um Sant’Anna. Impediu-me de alugar um filme para o lazer familiar. Estou aqui, a locadora faliu. Mais uma vez fui confundido: uma senhora que dizia proteger os menores aqui da cidade, viu-me com um boné, esperando o ônibus para casa de meus avós e com dois policiais revistou-me, e se não bastasse tirou o meu boné (suplemento adolescente) e disse que não tinha os traços do meu pai, já que eles o conheciam. De fato ela não sabia o que era coração. Viu apenas o meu rosto.

Quantas pessoas são classificadas pelos seus traços, suas vestimentas, seus bens materiais? Lá em Porto Alegre conheci uma secretaria de escola, que costumava se utilizar dessas classificações, todos que ali chegavam, passavam pelo seu crivo bisbilhoteiro. Subindo as escadas chegava o nosso novo professor de Educação Física e ela indagou-me: “Sérgio, este é o nosso novo professor? Por que esses cabelos tão grandes? Parece mais uma mulher!”. Seus cabelos eram sedosos, reluziam, bem cuidados. Talvez ela invejaria os pêlos capilares do docente já que os seus mereciam um intenso tratamento.

Um comentário:

Fernanda disse...

Olá Sérgio. Te mandei mais um e-mail. Aguardo encaminhamento!