sábado, 7 de agosto de 2010

Um olhar bigbrotherniano

Lá daquela janela do número sete vivia Ela a observar todos os passos dos moradores daquela rua. Tudo era analisado e depois em alguns minutos se espalhava pela população local como gafanhotos exterminando uma plantação de milho.

Com seus olhos atentos todos éramos alvo, dizia-se amiga, porém um passo em falso e seríamos os primeiros a caírem nas palavras lançadas por aquela víbora. Mulher má, de olhos sujos, rasgados pelo tempo, peles a se amontoarem no rosto que ainda não dava lá suas cinco décadas. Esguia, era feia. E aproveita-se dessa aberração que lhe foi proporcionada para lançar aos seus semelhantes os ares da maldade.

As intrigas com os moradores daquele condomínio foram várias, das mais simples discussões aos mais atentados puxões de cabelos. Nunca nos confrontamos, pois apenas me limitava ao bom-dia, boa-tarde e boa-noite, e ela ali na janela. Era uma Rapunzel da modernidade, com as tranças, deixando a desejar na beleza. Seu dia se completava ao espiar, uma espécie de câmera do BBB.

Mas Ela acabou ajudando à polícia no dia em que os soldados desmantelaram um casal de lésbicas que assassinava seus clientes, lá sim, naqueles prédios residenciais, e com sacos de lixo deixava os restos na lixeira envolvidos num saco preto. Ela sabia que algo estranho acontecia, não queria interferir no relacionamento das duas mulheres, porém o lixo exalava um odor de causar desconfiança, e Ela como uma observadora natural não titubeou: foi logo acionando aos policiais e tudo foi comprovado.

Ela não é apreciada pelos moradores, mas foi capaz de ver coisas que poucos observariam. Até hoje aquelas duas senhoras poderiam estar agindo na clandestinidade.



Um comentário:

Marco Aurélio Buzetto disse...

Interessante.
E o olhar sobre o outro faz das pessoas eternos cúmplices da vida alheia; e isto leva prazer aos leigos, pois os faz "esquecer" (negar) suas próprias realidades.

Pão e Circo, isto sim. O velho conceito greco-romano. Sempre funciona.

Abraços Prof. Sergio.