segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A efemeridade da tristeza

A morte talvez seja o mais triste dos sentimentos. Quando vi minha mãe chorando esta manhã pela perda de uma de suas amigas, engasguei com as lágrimas que não queriam se calar. Beatriz, minha filha, também não se conformava em ver a vovó que sempre fora sorridente despejando ao rio, lágrimas. Para ela a vovó estava triste e não adiantava explicar o que acontecera.

É aí que entra a minha filosofia, embasada em algum autor, já que não há um texto puro, sem vestígios de outros autores. Velório foi feito para ser triste? Errado, pode ser sim um lugar para acomodar os parentes e conhecidos do falecido, porém nada garante que deveria desembocar ali a tristeza.

O choro é a expressão da perda, do fato de achar que nunca mais nos encontraremos com aquele que se foi, porém há a necessidade de guardar o que de bom aconteceu. Os momentos felizes que passamos ao lado do morto (quando este não estava morto, é claro!). As suas façanhas, mesmo que sejam mínimas, suas festas, seus aniversários, mesmo que a festa não acontecera, seus momentos de desabafos, suas brigas com a família. O ser humano vive de altos e baixos, a felicidade não é plena. Existem sim pedaços do tempo em que casamos com a felicidade, mas ela não é eterna. São, portanto, momentos felizes. Feliz por que se tem dinheiro, feliz por que encontrou o ser amado(a), feliz por que soube que seu candidato foi o vitorioso durante as últimas eleições, feliz por ter um cargo de confiança, feliz por ter assistido ao lançamento de um filme que ninguém do seu rol de amigos havia assistido. Essas formas de felicidade são passageiras, efêmeras.

A morte é passageira, o corpo torna-se encoberto pelos grãos de areia que ali caíram e o cimento que foi despejado para se ter a certeza de que dali ninguém sairá são só movimentos que guardam as características físicas de um ser. A lembrança basta.

O velório, mesmo aqueles que costumam durar a noite toda só tornam os presentes cansados, como cada vez mais me faz acreditar que somos apegados à matéria (e aqui não vai o pensamento de um espírita ou alguém quem leu “Nosso Lar” ou qualquer biografia de Chico Xavier), o correto seria trancar a sala e só voltar no dia seguinte. Velar o corpo é algo que acalenta a tristeza, que diminui nossa felicidade, que enche nossos olhos de lágrimas. Ficam aqui as lembranças positivas e negativas, mas a nostalgia, o caráter emocional.

Não é afirmar que quem morreu, morreu, utilizando-me do senso comum, porém a vida tem um fim, e isso sabemos desde o momento em que nascemos, mais cedo o mais tarde nos despediremos, muitas vezes sem avisar e nada melhor do que se preparar para a perda, que garanto tem o falecido muito mais momentos felizes do que tristes. A tristeza, também, é efêmera e deve ser destituída.

4 comentários:

Carol Campos disse...
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Carol Campos disse...
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Carol Campos disse...
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Carol Campos disse...
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