O poder da escrita pode perder força quando a Inspiração passa, ancora-se e você não lhe dá nenhum cumprimento. Saudá-la é importante, assim como saudamos aos nossos conhecidos.
Esta semana foi dessa forma, Ela passou várias vezes e eu esquecido nem mesmo a saudei. Envolvido pelo trabalho, pelas inúmeras redações a serem corrigidas, algumas dezenas de provas que necessitam da apuração desse professor de língua portuguesa, impediram-me de um contato mais íntimo com a Inspiração. Depois sumiu, não apareceu mais. Faz dias que estou à sua procura, tentando um contato, mas Ela se faz de difícil. Renega-se ao contato.
Às vezes culpo os alunos pela falta da Inspiração, pelo branco que se incorpora nas mentes juvenis. E na verdade não são eles os culpados, a Inspiração pode aparecer, porém, ainda inexperientes, os jovens não captam sua mensagem, muito menos conseguem enxergá-la. E esse é um trabalho árduo. Os primeiros textos chegarão na calada da noite, assim como os mais perfeitos surgirão com a busca do silêncio, com o contato diante da natureza, a situação de cada indivíduo que circula pelas ruas da cidade etc. Sua imaginação tentará buscá-la, fará os contatos, mas Ela é arredia, avessa às baladas, as festas, podem até surgir quando o álcool fizer efeito, e olhem que nestes momentos ébrios, belas composições, poesias e prosas já foram cunhadas com a perfeição de um ourives.
O trabalho é minucioso, às vezes esperamos dias para que Ela chegue; outros, meses, mas seguimos caminhando, vivendo, pois aqui, na vida, a situação é favorável. Escrevemos enquanto vivemos.
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