quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Morri

Hoje morri. Morri para o nascimento de outra pessoa. Morri para o ranço que me incomodava, dava a mim o gosto pegajoso do homem-nádega como bem salientou Mário de Andrade.

Morri fisicamente também, pois adormeci por alguns instantes e acordei com a sensação de que o mundo se acabara. Matei-me, matou-me, mataram-me. E não adianta chorar, verter lágrimas que aquele que foi enterrado não voltará. Permanecerá na sua tumba, a sete palmos do chão, encoberto com aquela fina camada de terra putrefata pelo calor incessante e as fortes chuvas. Durmo com os bichos do subsolo alimentados pela minha carne, que a eles parece que tem valor. Mas é o valor do material estragado inconveniente aos homens de boa alma e caudaloso aos que querem se emburricar.

Bebo do sangue daqueles que nada fizeram para me salvar, mas vou logo dizendo que vampirismo não é comigo, pois a metáfora me encobre despejando todo o seu caudaloso rio de significados, que ainda passa em minha vida (ou morte?). Homem-pai, homem-marido, homem-filho, homem-profissional e ao mesmo tempo homem-nada. Sinto-me como Augusto dos Anjos: um escarro em meio aos afetos sinceros que desde bebê minha mãe fingia dar-me. Talvez a mamadeira fosse minha confidente e até hoje o meu desabafo tem sido o peito fraco como o da pomba-rola atingida por uma pedra do estilingue mais veloz daqueles garotos vadios. Não querem a carne do animal, nem mesmo a pomba, o importante é matar. Paz? Pastar é o que basta. È o que se enrola e me devora, é grama que me faz jantar. É o capim que como o dinheiro se vai, deixando alguns mais ricos e outros cada vez mais atolados em dívidas. E essas dívidas são principalmente as morais, daquelas que nos corrói, destrói, intoxica. De que vale tanta leitura se nada daquilo que foi absorvido foi aplicado. Foi uma vida no papel, de papel. Que pode ser rasgada em prazo de segundos como aquela menina nova que se cansa da história e arrebenta com as personagens ao por fogo ou picotar os dizeres no branco daquela folha de papel.

Sempre fui um urso, forte com os outros, falante da boca para fora, mas um fraco perante os meus familiares. Uma cloaca como fez Augusto Pignatari em sua poesia em que abomina a Coca-Cola. Resto. Dejeto. Eca!

Infelizmente faço poesia, crio histórias, porém, ainda, não sou capaz de atentar contra aquilo que foi dado por Deus com grande alegria: minha vida. Sou homem, sou pai, sou esposo, sou filho, sou um servo do meu Deus, não faço média, escrevo e com a escrita minha função é manipular as pessoas. Obrigado por me ler!

Um comentário:

Senhorita Valentim disse...

Perfeito. É teu mesmo sérigo? Foi você quem criou?