segunda-feira, 11 de abril de 2011

O arroz-de-féretros

Segue ele enterrando aos seus.... O camarada que não sai das festas tinha como princípios ser intitulado de arroz-de-festas, já o companheiro que opta pela perseguição dos defuntos, comparecendo a todos os sepultamentos da cidade pode sim ser denominado como arroz-de-féretros.

Quem não conhece em seu bairro, cidade, estado alguém que não perde uma velação? Poxa, todo lugar temos uma pessoa com esses traços, aparentando essas características. Não admite ser convidado, é parte integrante do grupo de pessoas que constarão na lista assinada pelos presentes. Aqui no interior não temos o hábito de fechar as salas onde os corpos adormecidos são velados, portanto lá permanece ele, incansável, disposto a ajudar, a fazer número, a chorar. Ele segue, dia, noite, permanece ali, como um soldado bravo, disposto a aguardar o desfecho daquela situação. Resultado: só sai quando o sepultamento agradece a última pá de terra jogada pelo coveiro. Não contente ele espera todos saírem e vai dar o último adeus ao falecido.

Olha, aqui em Taquaritinga podemos contar vários, alguns já se foram, como é o caso do Cido do Guarda-Chuva, mas há muitos que permanecem vivos e prontos ao próximo sepultamento. Eles esperam a morte com calma, acreditam no destino, seguem trabalhando, há aqueles que já adquiriram o quite morte (caixão, flores, túmulo etc.) pagou em algumas prestações e garantiu sua morada após o sono eterno. Não dispensa os amigos mais chegados, aguardando que os acompanhem até o último momento como eles fariam caso fosse o inverso.

Mas tem o simples fofoqueiro, que dá uma passada ali no velório para saber quem morreu, depois sai por aí dando detalhes criados por sua inspiração causando a maior celeuma na população (e esses são os que mais têm); tem o que comparece simplesmente pelo café, dizem que o da madrugada é o melhor, pois os ingredientes (falta deles) são dispostos a manter os companheiros acordados; há aqueles que comparecem pela bolacha, e não admitem a de água e sal; outros comparecem em nome daquele amigo que estará na cidade e que há anos não o cumprimenta, saem dali e vão para o bar mais próximo para uma dúzia de cervejas. Quanta gente, quantos tipos, quanta disposição...

Enfim, sabemos que nossa hora está marcada, espero que sejamos visitados por muitos quando naquela penumbra chegarmos, porém agradar a todos nem sempre é possível. Chame um arroz-de-féretros.



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