Tecido emaranhado

O melhor texto não é aquele que durante anos havia se escondido guardando aos mais afoitos conforto e alegria, é aquele que logo apresentado se faz de intruso e modifica a opinião alheia.

Há anos busco incansavelmente esse texto, que durante as exposições teóricas se desperta em abundância, mas quando a prática atravessa o seu caminho logo cai em utopia. Permanece latente como os mais doces cantos exalados pela oralidade de nossas lendas, mas quando é anunciado se faz de tímido e não mostra sua face.

Teóricos juram terem o visto, porém não provam, não sustentam suas dissertações. Estão fadados ao esquecimento, permanecerão na caverna até serem chamados. Esse dia está distante de se realizar, pois passamos por um mar de incertezas, indecisões constantes que alimentam a confecção de textos pobres e opacos, alhures das mais belas composições do passado.

Conseguiram!, bradou um amigo. Na esquina todos festejam a grande obra, o grande feito se realizara. Mas quem o burilou? Foi ele, diz o papa referindo-se a um de seus cardeais; na polícia o grito é mais enfático e dá voz (escrita) ao carcereiro. Calado o mudo gesticula, dando sinais de que quem cometera tal façanha tenha sido o deficiente visual daquela esquina; o torcedor pula com a camiseta do seu time favorito acreditando ser o presidente do clube seu autor. O texto ganha corpo, passa pelo crivo de especialista, é lapidado pelo senso-comum, deságua nas imensidões obscuras do pensamento humano, porém é lá na beira da opinião do leitor que ganhamos os contornos finais para enfim desembarcarmos no texto derradeiro.

É este o tecido emaranhado que procuro, assim como busco a felicidade eterna idealizada através do pensamento capitalista exposto nos livros mais originais da pressa exacerbada.