quarta-feira, 1 de junho de 2011

Missiva ao Onipotente

Taquaritinga, 01 de junho de 2011




Vossa Onipotência Senhor Deus,



Venho através de esta missiva formal declarar-me decepcionado com a direção que a vida tomou nestes tempos escassos. Poderia fazer-me de uma série de substantivos problemáticos, mas não serei redundante, muito menos prolixo, objetivarei o meu problema, sendo específico, sucinto, breve. Não o trato como um psicólogo, mas sim como aquele, único, capaz de solucionar os nossos problemas, já que me dirigi, de maneira formal, até aos órgãos superiores de nossa esfera Executiva. A utilização da minha pessoa é apenas um corpo utilizado para o clamor de milhares de docentes que convivem com a violência e a ingratidão. O Senhor foi um Professor e como tal demonstrou ao mundo o que é a verdadeira transmissão de conhecimento, muitos desconfiam, insultam-nos, afrontam-nos, cospem em nossas faces, arrebentam-nos com pancadas e palavras de baixo calão, porém não nos acovardamos, pelo contrário, empunhamos o nosso conhecimento e partimos para cima dos descrentes.

Pois é, a situação por aqui não anda nada agradável, vivemos tempos difíceis, os alunos não nos respeitam mais, ferem-nos com palavras quando não partem para cima com socos e pontapés. Semana passada uma amiga foi agredida por uma mãe de discente por ter dado-lhe ponto negativo, pois o mesmo não tinha feito a tarefa. A professora não conseguiu se defender e está internada na UTI de um hospital da região, já que aqui os equipamentos não foram suficientes para lhe ajudar na progressão vital (mas isso é outro problema que mais adiante, ou seja, em outra missiva poderemos tratar desse assunto já que o Senhor sempre nos atende). Ah, a professora corre o risco de permanecer em estado vegetativo. A situação chegou a um patamar sem medidas, que vamos até as escolas respectivas sem saber se voltaremos para o nosso lar, pois sei que não seremos vítimas de acidentes automobilísticos, balas perdidas, assaltos etc. (o Senhor pode especificar e ser mais preciso quanto as datas mortais), o problema concentra-se na escola, na sala de aula, especificamente, pois uma palavra mal digerida é sinônimo para a luta armada, arma que pode estar lá dentro mesmo, ou lá fora com a gangue que esse indivíduo chamado de aluno possui. Não foi um, nem dois professores que foram brutalmente assassinados pelos seus discentes, foram inúmeros e muitos outros que foram ameaçados e tiveram que deixar a sala de aula para poder se esconder, deixar de fazer o que mais gostava para ser refém desta situação caótica. Tenha compaixão, já que os nossos governantes não nos escutam, não ouvem o nosso apelo. Esses reajustes enviados ao povo nada mais é que uma política eleitoreira Fala-se em 42% de reajuste salarial para os docentes do estado de São Paulo, mas isso é irrisório. Esse aumento acontecerá em quatro anos. Aos olhos de pais que terceirizaram a educação de seus filhos somos os profissionais mais bem pagos do País, pois o que fazemos é apenas dar aulas e nada mais do que isso. Parem de achar que professor tem que ter carro, casa nos melhores bairros, roupas e acessórios das grifes, não temos condições, no passado sim, éramos os profissionais mais bem pagos do Brasil, hoje vivemos no cheque especial, nas dívidas acumuladas e que acabam com muitos relacionamentos que pareciam sólidos. Não podemos mais ser vistos como os corujas (conhecimento temos), porém hoje a nossa situação é a das fezes do cavalo do bandido. Estamos sendo humilhados pela política de criação de bandidos, seres delinqüentes, analfabetos funcionais, políticos corruptos, ministros impróprios, sarneys e collors da vida. Mas eles não reclamarão, pois argumentarão que estes adjetivos que foram citados acima não são aptidões à moralidade, porém são profissões que oferecem dinheiro e muito dinheiro, sendo isso apenas o que alimenta a alma desses seres em formação. Matar ou morrer e ter dinheiro. O homem do futuro só pensará nesses argumentos, seus olhos cifram e seus punhos se aquecem sedentos do sangue da morte.

Senhor Deus, não dá mais para conviver com tanta insegurança, com tanta bobagem jogada pelos nossos acadêmicos do ar-condicionado. Eles nunca colocaram em prática suas absurdas teorias, pois apenas querem vender seus livros, suas idéias às Secretarias de Educação que as compram relatando que são suas. E na verdade quem as aplicará seremos nós, bonecos moldados por uma prática absurda que se arrasta há algumas décadas e que infelizmente muitos de meus pares não enxergam solução. Os que ainda encontram a luz ao final do túnel ficam drogados pela ingestão de remédios receitados para a cura da depressão. O Senhor sabe do número de docentes afastados pelo maior dos males deste século, a depressão.

Meu Senhor não quero me prolongar, pois sei que tem que atender milhares de cartas como a minha. Professores reclamando ao Senhor são diariamente. Atenda-os, tente intervir diante desses homens que só almejam o Poder.



Com mais a relatar, encerro por aqui.

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