A mão que desliza sobre tua pele macia é a mesma que na rua toca as partes íntimas das mulheres acostumadas a satisfazer os homens de desejo inibido;
Esta mão que lhe aperta ao cumprimento é a mesma que na hora de cometer um ato ilícito ou escrever cloacas não mede esforços;
A mesma mão que com sua palma mede, também sopesa;
A mão que ensaboa a roupa torce-a, enxágua-a, também a recolhe dos varais num gesto brusco, repentino, sem aviso;
A mão que nas urnas digita os números dos políticos desse País é a mesma que numa “canetada” abrevia a estada política desses que nos governam;
A mão do maestro que conduz a sua orquestra com a ajuda da batuta é a mesma que num gesto índex diminui o prestígio de seus músicos;
A mão que acaricia a face branda do discente é a mesma que com empurrões e solavancos agride o seu olhar triste;
A mão que aponta os gestos: eu, tu, você, ele, nós, vós, todos é a mão do nunca, do nada, do não;
A mão que lhe abençoa através do aspergir é a mesma que sem medo manipula o seu dinheiro doado através do dízimo;
A mão que arranca da terra o seu alimento, planta o seu sustento é a mesma que conduz seres sem ideologia ao propósito do indivíduo;
A mão que cala, silencia é a mesma que pede aplausos, gritos, sorrisos;
A mão é a voz do mudo, do surdo, do cego;
A mão que lhe bate nas costas é a mesma que lhe esmurra, esbofeteia, belisca, unha;
A mão faz sons, dedilha cordas, também empunha armas, enfia-lhe a faca pelo bucho;
A mão é independente, parece não ter regras. Limpa o suor, mas não deixa de trabalhar. Esculpe, desenha, escreve, destrói, apaga, rasga. Orienta, confunde, mas nos dias de hoje a mão tem servido apenas para o “pollice verso”, ou seja, “polegar para baixo”. A mão construiu a paz; esqueceu-se, dando margens à guerra. Porém, na tua mão encontra-se a liberdade.
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