segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A mãe






“Olha dona Carmelita, ele nasceu aos sete meses de gestação, ficou ali comigo essas centenas de dias, sendo cuidado com todo amor enquanto esperava para florescer. Eu não bebi, não fumei, não usei drogas pesadas, fiz tudo o que o doutor mandou e, também, eu amava aquele filho que estavas prestes a vir a este mundo. Sabes que tinha pena dele por ter que conviver com esta sociedade cercada por hipócritas.

Quando ele nasceu foi uma festa, entre idas e vindas do hospital, não poupei esforços para vê-lo saudável, pronto como as demais crianças. Confesso que sofri, porém lutei. Foi um parto dificílimo que contou com as mãos divinas, mas parece que meu filho esqueceu-se desta mãe. Ganha muito dinheiro lá pelas florestas amazonenses, dando aulas nas universidades e lucrando como escritor.

Ainda me lembro do dia em que chegamos a casa depois da sua fatídica estada no hospital, aquela festa para o mais novo membro da família. Quanta felicidade... Sempre acreditei que ele viveria, mas confesso que a morte rondou meus pensamentos. Somos assim mesmo, bastas um cidadão estar ali no hospital com uma doença grave que os pensamentos fúnebres sitiam nosso cerebelo. Não evitamos, é natural. Parece ser natural.

Ontem conversava com ele, mas pouca atenção me foi dada. Lembrei-lhe que quem trocou suas fraldas fui eu, limpei suas fezes, troquei-o milhões de vezes, dei-lhe banho. Ele não reconhece... E quanta comida comprei para alimentar aquele corpo delgado. Quanta vitamina apliquei naquelas nádegas, pois em bumbum de mamãe ninguém põe às mãos. Tenho ciúme sim, não nego! Fui eu quem o criou, sem pai, e tenho direito sim de interferir em sua vida. Pode estar barbado que estarei ali, influenciando, interferindo em suas decisões. E não adianta me falar o contrário, que direi ser o filho meu. A decisão é minha e educo-o como bem quero.

Falo tudo isto, tomando o seu tempo Carmelita, porque ele se casará. Optou por “Aquelalá” e me deixou só. Onde foi que eu errei?”.

Nenhum comentário: