quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Miséria






Nestas tardes de verão não há como ficar restrito apenas aos poucos metros quadrados do apartamento, a sensação é de estarmos presos, sufocados. Se há criança, a situação torna-se insuportável, pois crianças detestam se concentrarem apenas naquele confinamento. E estamos certos: deixar a criança o dia todo sendo conduzida pela educação televisiva não há cabimento. Criança merece liberdade, viajar pelos campos verdes, sentir o cheiro de mato que nos traga há nostalgia de um passado quase bom. Mas na cidade grande não nos faltam estes benefícios, artificiais é claro, porém não deixam de despertarem o lazer que necessitamos. As opções são inúmeras. Os filhos e nós agradecemos. A vida tem que ser vivida, apreciada, ilustrada para que a criança se familiarize com o que há de bonito numa cidade cercada por prédios, asfalto e muitos veículos.

Em tempos que alguns partem rumo ao lazer, ao ato de se divertirem há aqueles que almejam a felicidade através da comida, através do sustento de seus filhos, estruturarem suas famílias. Para alguns pode parecer pouca coisa, quase nada, mas para um homem desempregado, açoitado todos os dias pela visão da miséria, o mundo é imenso, incompreensível, individualista. União é um vocábulo em desuso, palavra morta.

Levamos alguns pedaços de frutas e bolos para aquele passeio no parque. Em meio ao verde forte, a apagada situação dos moradores de rua, crianças na mais completa situação de miséria. Há quantos dias não comem, não bebem não se satisfazem. A mãe com uma das crianças segura pelo peito que alimenta, numa das mãos um mais velho e outros três mais a frente implorando por algo, migalhas que satisfaçam sua fome. Proporcionamos alguns pedaços de bolos e frutas àquela família, mas parece que a fome era maior, queriam mais, mas não tínhamos, dividimos tudo que ali seria para o nosso lazer, porém não nos arrependemos, fizemos o que julgamos ser necessário naquele momento. A felicidade mais uma vez mostrou-se ser momentânea, fugaz, ligeira – vem e vai – caminhamos mais um pouco, tentamos sair daquela cena triste, mas a miséria é duradoura, pois nossos órgãos públicos tratam a situação como uma normalidade. Ela não se apaga, somos nós que nos distanciamos. Apagamos aqueles momentos de nossas mentes para o nosso alívio, nosso esquecimento. Eles estão lá, sofrendo, amargando as dores da vida, que não se curam com remédios. Quanta ingratidão...

Naquele mesmo dia uma criança, amparada pelos pais, deu alguns pedaços de pão aos peixes, aquelas crianças miseráveis saltaram para o lago como se fossem atrás de uma vida, as suas. Era o alimento do dia.



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