quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Preconceito cinematográfico


Numa conversa, mais precisamente em uma reunião familiar, debatia com um amigo que adora as músicas e os clipes dos anos 80. Confesso não ter vivido intensamente esta década, porém recordo-me das músicas, alguns vídeos, que hoje graças à ajuda da internet tenho a oportunidade de revê-los, sentir aqueles momentos escondidos nos confins do meu cérebro.

Poderia emitir alguns conceitos, realizar algumas comparações, mexer com a parte estética dos artistas, a qualidade das obras que eram exibidas, mas nada desses elementos eliminariam a graça e preciosidade produzida nesta década de 1980. Lutávamos pelo fim da ditadura militar no Brasil, o movimento “Diretas Já” tornar-se-ia um marco, a seleção do Telê de 1982, que encantou ao mundo, porém não levou o “caneco”. Impressionante! Na música uma reunião de talentos, engrossados pelos gloriosos compositores das décadas de 60 e 70. Caetano, Gil, Rita Lee, Vinícius, Chico pediam passagem e se juntavam a um grupo de garotos, bons, importantíssimos para a divulgação de grupos, hoje consagrados. Titãs e sua “Sonífera Ilha”, eu ali sintonizado na rádio Clube Imperial enquanto minha mãe lavava as roupas da semana; Ultraje a Rigor se apresentando pela primeira vez no “Perdidos na Noite”, regido pelo Fausto Silva; o Chacrinha com o pessoal do Barão Vermelho sendo que em 1985 a música “Pro dia nascer feliz” tocava enquanto saímos de um dos períodos mais obscuros da nossa história. Era Rock in Rio. Cinco de janeiro de 1985. Legião Urbana na voz de Renato Russo dava vazão a uma geração alimentada pelo xis e pela Coca-Cola. Mas Joana, Gal Costa, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Amelinha, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Morais Moreira, Sandra de Sá, Tim Maia, Raul Seixas, Jorge Bem Jor, Alceu Valença, Roberto Carlos, Lobão, Leo Jaime, Paulinho Mosca e outros tantos foram elementos fundamentais nessa história bonita da música brasileira. E o rádio, assim como a TV foram importantes no crescimento deste movimento e, também, na busca pela liberdade.

Pois bem, os conceitos que poderia emitir sobre esses comportamentos e os demais, mencionados lá no início deste texto foram dados por um desconhecido quando mencionei o meu gosto por filmes brasileiros. Olhares apertados, silêncio na sala, um ritual fúnebre. Parecia haver um assassinato naquele apartamento. Não matei ninguém, pelo menos através de armas de fogo ou branca, pode ter acontecido com palavras. Filme brasileiro sim! E não venham com o eufemismo filme nacionais. Olhares desativados e discriminatórios lançados por ignorantes acostumados a pegarem carona nos comentários da mídia de que filme brasileiro é só sexo, drogas, violência. Há filmes bons, ótimos. Isso é evidente. Fernanda Montenegro e sua “Central do Brasil” mostraram o nosso poder, assim como o “Quatrilho”, seu antecessor; “O que é isso, companheiro!”, baseado na obra verídica do jornalista Fernando Gabeira; as incontáveis produções de Jorge Furtado e Guel Arraes; Daniel Filho e seu elenco de globais, porém bons e decisivos filmes; Jorge Fernando que sai da TV e agora encampa a película, Zelito Viana; Cacá Diegues, Glauber Rocha; enfim muitos que os pobres ignorantes desconhecem. Foram centenas de filmes de qualidade, aptos ao Oscar, porém sendo brasileiro, nada confirmado.

Durante anos carregamos este preconceito devido às “pornochanchadas”, utilizadas durante a ditadura militar, filmes muitas vezes sem conteúdo, mas um chute, muitas vezes baseados em obras literárias, na censura – que era burra. Nelson Rodrigues teve suas obras rasgadas de tanto serem filmadas e refilmadas na década de 80.

Cenas são detalhes, elementos utilizados pelo diretor para chamar a atenção dos seus espectadores, assim também o escritor se utiliza de seus recursos; o filme deve ser analisado num contexto geral: o que queria o diretor quando o filmou? Qual a sua mensagem? Pensa pequeno quem ainda desvaloriza e resume o nosso cinema nacional ao sexo, as drogas e a violência. Há uma dezena deles sendo lançados, também é a maneira mais fácil para aqueles que não gostam de ler chegar a uma obra da nossa literatura. Não custa tentar, basta retirar a venda dos olhos.

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