quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Retorno ao perdão




Constantemente trabalho essa pedra que durante anos fez-me de Sísifo – levá-la ao topo da montanha e vê-la rolar novamente para a sua base.

Sabia sim que poderia vencê-la só, apenas eu. Ali cavoucando ao subsolo da minha mente e fazer emergir o líquido da raiva. E como fazer para acompanhar o seu naufrágio? Não foi fácil, não é fácil. É uma batalha diante de gigantes, elementos que se apossam do seu corpo como fossem proprietários. Escurecem suas retinas, apagam o seu cérebro, tomam sua língua e lá está a transformação. A personagem de sobrenome Sam, da obra “A metamorfose”, de Franz Kafka, cuja personagem acorda transformada num inseto. Não sei explicar? Sei sim. É neste momento que começa a fazer sentido este sentimento, tenho a convicção que algo de errado acomete o meu corpo. Mereço refletir, tenho que pausar para um momento de esclarecimento diante dos meus pensamentos...

Quantas vezes parei e encontrei soluções para os problemas no meu trabalho? Quantas vezes ajudei amigos a solucionarem os seus empecilhos? E as famílias que procuravam uma solução para os seus filhos com problemas escolares? Meu Deus, quantas foram às vezes que olhei para o exterior e esqueci-me de mim? Vários anos abdicando de uma análise que caberia só a mim... Durante quantas décadas deixei de me olhar? Onde estava minha face? Encoberta por sentimentos vis, mesquinhos, que só a mim incomodam, machucam, constroem chagas que a todo instante, quando o trago à superfície, sangram. Procurar doadores se o problema sou eu? Estancar ao ferimento seria algo momentâneo, fictício. A solução seria a cura, a libertação, o esquecimento. Buscar auxílio na palavra “perdão” tê-la como vocábulo constante em meu dicionário, torná-la verbete de suma importância nos meus textos. Porém não dizê-la apenas, senti-la. Deixar que seu mel agisse, circule pelas minhas veias e penetre o meu coração. Só assim serei curado. Farei com que meu coração dê lugar ao amor, a sentimentos bons; os problemas não deixarão de aparecerem, porém não farão parte da mesma.

Aquele que nessa vida não perdoou, não perdoa, perecerá. Sua vida estará fadada ao acumulo de sentimentos maléficos, capazes de afundá-lo na mais completa e incurável sensação de impotência. Depressão. Esqueça!

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