sexta-feira, 15 de junho de 2012

Dor de barriga

Rapidamente ele adentrou ao banheiro, estava só. O show pirotécnico emitido pelas suas flatulências quebrava as barreiras impostas pela Lei do Som – eram muitos decibéis, porém garantiam os amigos que trabalhavam na empresa, que do outro lado da porta nada poderia ser ouvido. Durante alguns minutos ele dominou aquele espaço, reinou vitorioso naquele trono, suou, distraiu-se, esforçou-se, enfim, curtiu uma fossa, ou seja, um banheiro...
            Logo em seguida eis que surge uma alma desesperada, aflita, emitindo sons além daqueles que meu amigo costumava emitir quando naquele recinto adentrava, seu silêncio fora superado, o barulho parecia ser de uma fanfarra, destas marciais, explosivas, de acordar qualquer vizinhança. Não queria sair dali, escutou aos gemidos, berros, agudos, um barulho ensurdecedor. Coisa de quem não tem respeito pelos seus semelhantes, era isso que se passava em sua cabeça, porém como controlar algo que seria imposto, sem que pudéssemos emitir qualquer barreira? O homem que ocupava o banheiro ao lado até que tentou ser discreto, mas nessas horas não há como, somos dominados por uma força maior que se apossa de nossos intestinos, aí meus amigos, se não corrermos ao banheiro mais próximo seremos abduzidos, levados por um mar de lama (é claro, isto depende daquilo que tenhamos comido anteriormente. Diz o dito popular que somos aquilo que comemos).
            Foram trinta minutos de disputas, tanto de um lado quanto do outro, a rinha parecia ser saudável (será?), mas ninguém queria arredar os pés dali. Aos poucos foram se juntando os membros da empresa, funcionários de todas as partes eram chamados a comparecer ao evento. Torcida, gritos, palavras de incentivo foram levados aos concorrentes. Mas será que agora a corrida era pelo término? Seria quem terminasse primeiro o serviço? Não, diziam alguns, era mais uma prova de resistência. Tinham aqueles que apostavam numa prova de som, ou seja, os urros mais estridentes, dor, alegria, não sei.
            Chegou o momento, abriram as portas dos assentos juntos, olharam-se, estavam molhados, dirigiram-se à pia, ensaboaram às mãos, e abriram as torneiras, lavavam às mãos enquanto se olhavam, retiravam inúmeras bactérias contidas naquele ambiente, lá fora todos esperavam ansiosos pelo desfecho. Enxugaram as mãos e saíram. Na empresa foram recebidos como heróis, homens que venceram uma batalha, acabaram com o inimigo, senhores provindos de uma guerra, jogadores da seleção brasileira de futebol campeã do mundo.
            Na empresa este foi o assunto da semana, os amigos eram lembrados e admirados, não por terem ficado muito tempo naquele banheiro competindo por algo tão fétido, mas por terem conseguido ludibriarem seus chefes com o caso da dor de barriga. E enfatizaram: “Dor de barriga não dá uma só vez”.
            

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