sábado, 23 de junho de 2012

Um inverno rigoroso

Nesta manhã em que o inverno se anunciou saio pelas ruas cinzentas de Porto Alegre e noto os meus semelhantes vestindo roupas pesadas, artigos típicos para este período do ano. As folhas caídas, as árvores secas, os lábios ressecados e uma aparência de elegância carregam o ser humano a estar tipicamente distinto para esse período. Mas em algumas passadas mais, algumas quadras a frente é que sinto a realidade de um inverno rigoroso...
São homens e mulheres aglutinados, como se fossem únicos, dividindo o mesmo cobertor; crianças também se juntam, enfim, buscam uma solução para este problema que dói na pele. Uma mãe amamenta seu filho, que ainda bebe o líquido de seu peito murcho e desfalecido, exemplo de uma vida sem as belezas da ciência ou modernidade. Crianças choram, homens se aquecem tomando cachaça e logo chegará alguém que lhes oferecerá algo para comer (não é sempre assim). Passam muitas vezes, alimentando-se desses countainers que a Prefeitura espalhou para separar o lixo seco do lixo orgânico, uma medida sustentável, nesses dias de “Rio Mais 20”. Na verdade se alimentam dos restos encontrados nesses imensos latões. Passarão a vida toda assim, sem perspectiva, pois nada de diferente desta vida que eles vivem foi mostrado, nada foi apresentado para que eles pudessem mudar de vida, exercer a sua cidadania, viver dignamente.
São órfãos de uma sociedade injusta, acostumada a viver individualmente, sem o amor ao próximo, o espírito de ajuda, de cooperação, são descendentes de homens avessos ao altruísmo.
Como eu desejava vê-los se alimentando dignamente, sustentando aos seus filhos de maneira eficiente, trabalhando, morando em casas descentes e que contassem com o auxílio da Saúde, Educação, de um Governo preocupado com os humildes, os injustiçados sociais. Enfim, queria um mundo entre iguais, entre homens prontos a se desenvolverem livres dos empecilhos. Que cada criança pudesse ir à escola vestindo um casaco que lhe abrigasse do frio, só assim poderiam pensar em estudar, e, também, que suas barrigas estivessem cheias, satisfeitos, prontos para conviverem.
Só assim eles não pensariam em roubar, em usar drogas ou mesmo descarregarem toda a sua fúria em seus pupilos e cônjuges. Sei que sonho, sei que muitas vezes sou chamado de visionário, mas não, eu ainda acredito no ser humano e também acredito que os nossos governantes se conscientizarão e olharão para estes como vem flertando, de maneira tímida, nosso Governo Federal.

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