Ainda ontem
conversava com um aluno do cursinho pré-vestibular e ele me dizia, indignado,
do fechamento do curso de Letras em duas grandes universidades do Rio Grande do
Sul. Este discente, futuro universitário, provavelmente um grande professor,
teve suas chances limitadas na docência devido à má qualidade dos cursos que
talvez viesse a freqüentar.
Por um lado
tenha se livrado de ser apelidado como os demais recém-formados saídos de uma
faculdade de baixa qualidade, mas pensando bem quem faz a universidade são seus
alunos. Também não posso simplesmente me basear neste quesito e esquecer-se do
potencial e qualidade de seus docentes. Estes devem ser avaliados sim, assim
como os seus discípulos. Que esta avaliação não se restrinja apenas aos
docentes, porém que os profissionais de maneira geral sejam avaliados e que
tenham a oportunidade de pesquisarem, estudarem e ganharem bons salários.
A dedicação e
vocação deste discente fazem-me lembrar de muitos outros alunos que estão nesta
mesma situação, espalhados pelo País e que não podem ou não terão a
oportunidade de se dedicarem ao magistério. Este assunto que vem sendo tratado
pela mídia como essencial (e o é) deve sim ocupar as páginas de nós docentes,
classe desvalorizada e ameaçada, que em função de sua desunião buscam caminhos
distintos e não falam de maneira uníssona. Talvez aí possa estar parte do
problema, mas a minha preocupação é com a formação de professores de Língua
Portuguesa, seres humanos capazes de tratarem o nosso idioma com prazer e levar
esse gozo aos seus alunos. Desmistificando o nosso idioma, contextualizando-a e
não a deixando como um idioma morto, enterrado, sepultado por aqueles que acham
que a Língua não é dinâmica.
Amar a Língua
Portuguesa é o primeiro passo neste caminho. Não adentre a esta área achando
que se fartará de dinheiro, pois as veredas serão árduas, os caminhos
espinhosos e a inveja um grande mal, porém a desistência o colocará no campo
dos fracos e o remar com a corrente trará o abandono a milhões de seres humanos
que ainda almejam conhecer nosso idioma.
Ao longo de
décadas fomos influenciados por outras línguas, outros costumes, outras
culturas e mais além pela tecnologia. E isso tudo não é um malefício, mas sim
algo que se soma e deve sim ser estudada, pesquisada e dada as devidas
ponderações, no entanto não posso sair assassinando essas influências ou
restringindo-as através de leis feitas por pseudoestudiosos. A pesquisa deve
ser feita com os seus usuários, com os professores que estão na linha de frente
e a cada dia lidam com a nossa Língua (“Fala, Mangueira...”, dizia Caetano
Veloso). Para o Acordo Ortográfico,
que na verdade se tornou um Desacordo
Ortográfico, não consultaram nossos docentes, muito menos os falantes da
Língua Portuguesa, foram logo passando a
bola aos pesquisadores de Academias que pouco ou quase nada interagem com o
povo, e por meio de um decreto apresentaram a decisão. Anos de estudos afirmam
os acadêmicos, porém lá na ponta nada disso funcionará, pois apesar de sermos
países de mesma língua, possuímos dialetos distintos, costumes diferentes,
culturas não tão afins. Podemos sim nos enriquecer, mas jamais este bradar
uníssono ascenderá em se tratando de Língua Portuguesa. Está certo, o acordo é
simplesmente ortográfico, mexerá apenas com a ortografia, porém afetou e afeta
toda produção editorial de um País e o seu processo de ensino. Conversaram com
os professores alfabetizadores? Aqueles do Ensino Básico? Jamais foram
consultados. E àqueles alunos que adentrarão a uma universidade? Nunca. Pois é,
e esta reforma foi atribuída a uma só pessoa, ao senhor Evanildo Bechara, um
grande estudioso do nosso vernáculo. Foi só ele mesmo?
Sei que não
podemos entregar a nossa Língua aos
estudos que querem torná-la vazia, porém não podemos sujeitá-la a falta de
contextualização que cada vez mais leva estudantes brasileiros a se
distanciarem desta que era para ser “A
bela e inculta flor do Lácio”.
Faltam
docentes que amem e estudem a nossa Língua Portuguesa, porém existem pessoas
capazes de dificultarem o acesso ao nosso vernáculo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário