sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Nossa Língua Portuguesa: amem ou deixem-na!




Ainda ontem conversava com um aluno do cursinho pré-vestibular e ele me dizia, indignado, do fechamento do curso de Letras em duas grandes universidades do Rio Grande do Sul. Este discente, futuro universitário, provavelmente um grande professor, teve suas chances limitadas na docência devido à má qualidade dos cursos que talvez viesse a freqüentar.
Por um lado tenha se livrado de ser apelidado como os demais recém-formados saídos de uma faculdade de baixa qualidade, mas pensando bem quem faz a universidade são seus alunos. Também não posso simplesmente me basear neste quesito e esquecer-se do potencial e qualidade de seus docentes. Estes devem ser avaliados sim, assim como os seus discípulos. Que esta avaliação não se restrinja apenas aos docentes, porém que os profissionais de maneira geral sejam avaliados e que tenham a oportunidade de pesquisarem, estudarem e ganharem bons salários.
A dedicação e vocação deste discente fazem-me lembrar de muitos outros alunos que estão nesta mesma situação, espalhados pelo País e que não podem ou não terão a oportunidade de se dedicarem ao magistério. Este assunto que vem sendo tratado pela mídia como essencial (e o é) deve sim ocupar as páginas de nós docentes, classe desvalorizada e ameaçada, que em função de sua desunião buscam caminhos distintos e não falam de maneira uníssona. Talvez aí possa estar parte do problema, mas a minha preocupação é com a formação de professores de Língua Portuguesa, seres humanos capazes de tratarem o nosso idioma com prazer e levar esse gozo aos seus alunos. Desmistificando o nosso idioma, contextualizando-a e não a deixando como um idioma morto, enterrado, sepultado por aqueles que acham que a Língua não é dinâmica.
Amar a Língua Portuguesa é o primeiro passo neste caminho. Não adentre a esta área achando que se fartará de dinheiro, pois as veredas serão árduas, os caminhos espinhosos e a inveja um grande mal, porém a desistência o colocará no campo dos fracos e o remar com a corrente trará o abandono a milhões de seres humanos que ainda almejam conhecer nosso idioma.
Ao longo de décadas fomos influenciados por outras línguas, outros costumes, outras culturas e mais além pela tecnologia. E isso tudo não é um malefício, mas sim algo que se soma e deve sim ser estudada, pesquisada e dada as devidas ponderações, no entanto não posso sair assassinando essas influências ou restringindo-as através de leis feitas por pseudoestudiosos. A pesquisa deve ser feita com os seus usuários, com os professores que estão na linha de frente e a cada dia lidam com a nossa Língua (“Fala, Mangueira...”, dizia Caetano Veloso). Para o Acordo Ortográfico, que na verdade se tornou um Desacordo Ortográfico, não consultaram nossos docentes, muito menos os falantes da Língua Portuguesa, foram logo passando a bola aos pesquisadores de Academias que pouco ou quase nada interagem com o povo, e por meio de um decreto apresentaram a decisão. Anos de estudos afirmam os acadêmicos, porém lá na ponta nada disso funcionará, pois apesar de sermos países de mesma língua, possuímos dialetos distintos, costumes diferentes, culturas não tão afins. Podemos sim nos enriquecer, mas jamais este bradar uníssono ascenderá em se tratando de Língua Portuguesa. Está certo, o acordo é simplesmente ortográfico, mexerá apenas com a ortografia, porém afetou e afeta toda produção editorial de um País e o seu processo de ensino. Conversaram com os professores alfabetizadores? Aqueles do Ensino Básico? Jamais foram consultados. E àqueles alunos que adentrarão a uma universidade? Nunca. Pois é, e esta reforma foi atribuída a uma só pessoa, ao senhor Evanildo Bechara, um grande estudioso do nosso vernáculo. Foi só ele mesmo?
Sei que não podemos entregar a nossa Língua aos estudos que querem torná-la vazia, porém não podemos sujeitá-la a falta de contextualização que cada vez mais leva estudantes brasileiros a se distanciarem desta que era para ser “A bela e inculta flor do Lácio”.
Faltam docentes que amem e estudem a nossa Língua Portuguesa, porém existem pessoas capazes de dificultarem o acesso ao nosso vernáculo.


 P.S.: Professor de Língua Portuguesa não é simplesmente aquele que se formou em Letras ou em Lingüística, porém todos aqueles que ainda amam o nosso idioma e querem-no dinâmico e contextualizado.
            

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