Gosto da chuva batendo na janela
do meu apartamento, do seu frescor e o cheiro de terra molhada. Das suas gotas
descendo de maneira organizada das nuvens. Os primeiros pingos são mais
grossos. Aos poucos, antes de chegar até nossos lares eles se reduzem. Tornam-se
menores. Os gritos se espalham: “Retire
as roupas do varal!”; “Saia da chuva, Zequinha1”; “Vai pegar um resfriado,
Fulano!”.
O
ar parece ficar mais limpo, a sensação de calor se ameniza, enfim podemos
respirar. Gosto do calor, nasci numa região extremamente quente, porém da
maneira que nestes dias o calor se incorporou no Rio Grande do Sul foi
demasiado. Termômetros oscilando entre 35°C e 42°C . Pessoas suando às bicas. Roupas curtas
dando margem aos corpos bronzeados, torneados e àqueles que não se enquadram
aos padrões eternizados pela mídia. Todos sentem o avassalador poder do Sol e
possuem a liberdade de se vestirem como quiserem. A beleza é fundamental como disse o poeta, porém ela é individual,
interna e não se resume ao tornear ou bronzear da pele.
As
filas em hospitais cresce neste período. Crianças desidratadas, algumas casas
sem água e energia elétrica. Homens trabalhando neste sol disposto ao pão do
dia seguinte. Corpos escurecidos pelos raios solares e a falta de proteção ao
desfavorecido. Queimam-se casas e o governo muda o seu discurso. Altera a sua
rota. Deixa o sol trabalhar, enquanto eles aproveitam para confabularem com a
ajuda do ar-condicionado.
A
chuva é divina, é bela, é cheirosa, e é capaz de ajudar àqueles que ainda sofrem
com o calor da ausência de nossa sociedade. Enquanto o calor humano é levado ao
individualismo e a sociedade do consumo é exaltada, brasileiros vivem assolados
pelo calor infernal e pelo desejo que a chuva possa vir quando desejada.
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