sábado, 2 de fevereiro de 2013

Desejo


Gosto da chuva batendo na janela do meu apartamento, do seu frescor e o cheiro de terra molhada. Das suas gotas descendo de maneira organizada das nuvens. Os primeiros pingos são mais grossos. Aos poucos, antes de chegar até nossos lares eles se reduzem. Tornam-se menores. Os gritos se espalham: “Retire as roupas do varal!”; “Saia da chuva, Zequinha1”; “Vai pegar um resfriado, Fulano!”.
            O ar parece ficar mais limpo, a sensação de calor se ameniza, enfim podemos respirar. Gosto do calor, nasci numa região extremamente quente, porém da maneira que nestes dias o calor se incorporou no Rio Grande do Sul foi demasiado. Termômetros oscilando entre 35°C e 42°C. Pessoas suando às bicas. Roupas curtas dando margem aos corpos bronzeados, torneados e àqueles que não se enquadram aos padrões eternizados pela mídia. Todos sentem o avassalador poder do Sol e possuem a liberdade de se vestirem como quiserem. A beleza é fundamental como disse o poeta, porém ela é individual, interna e não se resume ao tornear ou bronzear da pele.
            As filas em hospitais cresce neste período. Crianças desidratadas, algumas casas sem água e energia elétrica. Homens trabalhando neste sol disposto ao pão do dia seguinte. Corpos escurecidos pelos raios solares e a falta de proteção ao desfavorecido. Queimam-se casas e o governo muda o seu discurso. Altera a sua rota. Deixa o sol trabalhar, enquanto eles aproveitam para confabularem com a ajuda do ar-condicionado.

            A chuva é divina, é bela, é cheirosa, e é capaz de ajudar àqueles que ainda sofrem com o calor da ausência de nossa sociedade. Enquanto o calor humano é levado ao individualismo e a sociedade do consumo é exaltada, brasileiros vivem assolados pelo calor infernal e pelo desejo que a chuva possa vir quando desejada.

Nenhum comentário: