Num gesto insano, desesperado e
em busca da eternidade ele partiu. Correu pelos verdes vales, bosques arredios,
lutou com moinhos, apartou desavenças entre amigos, mas não desistiu da vida
como comentavam lá pela cidade.
Foram
anos correndo em desespero, almejando um local em que pudesse ser feliz.
Sorria, mas parece que os habitantes não lhe retribuíam com o mesmo. Foi
friamente castigado com o gosto amargo da solidão. Sofreu. Sua cabeça foi
lançada como prêmio numa dessas quermesses que acontecem em prol da Igreja, mas
tendo o santo como homenageado.
Políticos
não pouparam esforços para que da tribuna da Câmara lançassem a ele palavras
fortes, indecorosas, prontas para lhe ofuscarem o brilho. Tentou processá-los,
porém a lei era para o mais forte, mandava quem tinha poder, obedecia aquele
que possuía consciência. Durante anos perdurou a política dos coronéis: homens
mandavam, ditavam ordens e seus súditos eram obrigados a acatá-las. A máquina
administrativa estava emprestada aos corruptos. Durante várias administrações o
poder Executivo foi sucateado, o Legislativo mudava suas marchas em benefício
próprio, de fato o poder havia sido corrompido.
Como
era triste para aquele homem que sempre observara e através dos livros lido
imaginava uma cidade melhor... Lutara para o seu progresso. Saiu e voltou, mas
tudo se encaminhava para o mesmo desfecho. Lá parece que nada vingava apenas os
donos de terra lucravam. O povo não tinha comida, não tinha diversão, o que
restava aos jovens daquele lugar onde ele morava eram os bares. Ansiavam por
cultura. Alguns não sabiam o que era teatro, outros não olharam a ampla tela do
cinema. Não tinham aparelho DVD. Os livros eram empilhados na biblioteca
pública, mas ao povo não fora ensinado que os compêndios eram para serem
explorados. Uma vida pacata. Um ócio improdutivo, distinto daquele que alimenta
ao nascimento das grandes e inesquecíveis idéias.
Nada
mudou! Políticos ainda pedem votos à base de cestas básicas, confecção de
óculos, distribuição de pares de chinelos durante os comícios. Homens do poder
ainda pagam cachaças nos bares aos eleitores, emprestam suas mansões luxuosas
para festas aos finais de semana. A vida anda muito boa para aqueles que se
ocupam do poder. Casas construídas, carros novos sendo comprados e aquele
coitado lá da periferia sem ter o que comer e doente procura um posto médico
com doenças causadas pela fome e não é atendido, pois especialista para sua
enfermidade não se tem.
Lá
vai ele correndo incansavelmente pelo campo, com apenas um par de tênis e a
mesma roupa, sem banho, sem comida, cansado e com frio, pois foi a única
alternativa, pois ali o desenvolvimento foi esquecido ao fundo do VOLP
(Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa).
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