Entrei naquele banheiro e me desesperei. Estava por fazer
nas calças, porém fui salvo quando passava por aquela avenida extensa e
movimentada e decidi parar ali, num shopping
que inaugurara há dois meses e continha em sua estrutura e decoração as mais
modernas e criativas obras da arquitetura.
Na entrada não tive tempo de apreciá-lo, pois o banheiro
me aguardava e era um caso vital, de calamidade nacional ocasionado pela
feijoada enriquecida que tinha consumido na noite anterior. Ao entrar no
banheiro não tive tempo para mais nada. Era eu dialogando com um dos tronos
imponentes daquele mictório. Sentei-me, parei de suar e esperei pela conclusão
da obra. Não deveria ser interrompido, silenciei ao meu celular, recados
familiares e escolares foram impedidos de me ocuparem. Era um momento único, de
eterno encanto, da análise do cotidiano...
Olhei para o teto e as luzes me impressionaram pelo seu
designer, pelas formas geométricas que as moldavam; os azulejos, donos de um
branco dantes nunca visto. Reagia eu como Caminha ao relatar ao rei de Portugal
o descobrimento de terras brasileiras e seu tesão pelas índias brasileiras. Era
os detalhes, a beleza das formas, o cheiro aromático exalado pelo perfume do
mais perfeito produto químico já inventado na história deste País. As portas
reforçadas, rígidas, uma madeira que me fez buscar um perito no assunto, dentro
daquele recinto comercial, para poder me explicar à dureza daquele monumento.
Uma parte era de lei (madeira eficiente),
outra, ornamental, de charão da China.
O vaso dava pena de vê-lo diariamente ser estragado,
abusado pelos mais inexplicáveis borrões e urina deixados pelo completo descuido
masculino em lidar com o pênis nestas situações. Somos sim o sexo que não sabe
mirar a boca do vaso quando vamos
fazer xixi. Levantar a tampa, então... Branco vaso, dotado de cacos
milimetricamente arranjados, que em contato com as luzes tornava-se um show, um espetáculo das artes, uma
exposição ao estilo dos museus contemporâneos. O chão limpo, brilhoso, intacto.
As torneiras da pia sentiam a sua presença e jorrava água, esta que também
poderia ser bebida segundo bilhete num painel de led que aparecia afirmando a presença de cada indivíduo naqueles
assentos. Quando terminei de realizar o serviço automaticamente um censor
vermelho brilhava naquela válvula da descarga e a água varria a sujeira, era um
mar, algo que assustaria Hidra, Netuno e companhia. O papel higiênico, estrategicamente
colocado, desenrolava-se em metros e assim poderia executar a limpeza com
primor. Aos mais sensíveis eram dispostos lenços umedecidos, aromáticos. Na
saída, por outra porta, depois da lavagem das mãos, algo triunfal, fechar com
chave de ouro, uma mesa com tipos de café (com ou sem açúcar) e alguns tipos de
chá.
Uma ida ao banheiro nunca demorou tanto, superei minha
esposa e todas as mulheres, passei horas ali (dentro do banheiro, é lógico!),
pois queria ler as notícias dos periódicos, mas desta vez estava acompanhado do
meu tablet e pude sim ler de maneira
sossegada, coberto pelo silêncio e amparado pela tecnologia.
Quem foi que disse que homem não gosta de ir ao banheiro?
P.S.: Não tive tempo de conhecer as demais dependências
daquele shopping.
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