Acabou o carnaval e a
quarta-feira de cinzas chegou mansa, como de costume, tímida, com os olhos nebulosos pela ressaca do último
dia de carnaval. Óculos escuros, ar cansado e ônibus desanimado. Sei que pela
manhã é difícil encontrar trabalhadores com caras esbanjando sorrisos, mas a quarta-feira de cinzas chega à tristeza
pelo término dos festejos momísticos.
A
morena cansada se apega ao seu fone de ouvido, farda militar de trabalho,
típica a qualquer cidadão que se lança ao seu trabalho, e o sono a consome; lá
na frente o cobrador quase babando atende aos passageiros com a desatenção
típica de umas noites mal-dormidas; lá no fundo do ônibus cantam o tal de “Lepo-Lepo”
um grupo de adolescentes que empunham, como troféus, suas latas de cervejas, era
o último gole. É a despedida, é o exagero praticado pelo individualismo. E isso
não acontece só pelo carnaval. Este acontece uma vez ao ano, faz parte do
folclore brasileiro e merece ser comemorado, porém a minha escrita vem trazer à
tona a falta de compreensão do ser humano com os seus semelhantes. Hoje não
temos mais o bom-dia dado para que tu
tenhas realmente um bom-dia, quando dado ele é mecânico, um gesto habitual como
outros muitos que emitimos diariamente. O ser humano que pega um ônibus contigo
ele tem a capacidade de pisar no seu pé, apertar-te e sentar ao seu lado e não
pedir-te desculpas. Sai do seu lado como se nada tivesse acontecido...
Os
ônibus nos horários de pico funcionam
como latas de sardinha, apertam-se, somos restritos aos corpos que estão dos
nossos lados, nem ao menos pegar nas barras somos capazes devido ao aperto e
espaço restringido. E mesmo assim o ser em quem tu te amparas não olha na sua
cara, quando fixam o olhar ao seu é sinal de que reclamarão ou proferirão
alguns palavrões. Sei que este
assunto tornou-se páginas de uma vida banal, mas é através desta inapetência,
desta letargia humana que os nossos governantes se aproveitam. Temos sim que
exigir, mas mais do que isto: é vital acordarmos ao ser humano que insiste em
se individualizar, em querer se esconder em seu casulo e exigir que os demais
façam por ele. Uma parcela pequena da nossa população luta bravamente pelos
seus direitos, os outros esperam “cair do
céu”. Reclamar todos se tornaram peritos, principalmente agora com as redes
sociais, porém quem são esses que acusam e nada realizam para a transformação?
São peritos nas críticas, donos de argumentos convincentes, mas no momento de
dar a cara às tapas, camuflam-se como o jabuti fugindo de seus predadores.
Já
está mais que na hora de retirarmos às mascaras carnavalescas, guardarmos aos
óculos escuros, não apertar com
fingimento às mãos humanas, e não abraçar
como tamanduás nossos semelhantes e sermos mais humanos. Fazer realmente aquilo
que escrevemos ou pregamos. Chega dessa ladainha mal rezada e caquética,
ultrapassada, inverídica bradada em alto e bom som e depois aniquilada pelo seu
individualismo. Pasmem-se!
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