domingo, 9 de março de 2014

O individualismo vigente

Acabou o carnaval e a quarta-feira de cinzas chegou mansa, como de costume, tímida, com os olhos nebulosos pela ressaca do último dia de carnaval. Óculos escuros, ar cansado e ônibus desanimado. Sei que pela manhã é difícil encontrar trabalhadores com caras esbanjando sorrisos, mas a quarta-feira de cinzas chega à tristeza pelo término dos festejos momísticos.
                A morena cansada se apega ao seu fone de ouvido, farda militar de trabalho, típica a qualquer cidadão que se lança ao seu trabalho, e o sono a consome; lá na frente o cobrador quase babando atende aos passageiros com a desatenção típica de umas noites mal-dormidas; lá no fundo do ônibus cantam o tal de “Lepo-Lepo” um grupo de adolescentes que empunham, como troféus, suas latas de cervejas, era o último gole. É a despedida, é o exagero praticado pelo individualismo. E isso não acontece só pelo carnaval. Este acontece uma vez ao ano, faz parte do folclore brasileiro e merece ser comemorado, porém a minha escrita vem trazer à tona a falta de compreensão do ser humano com os seus semelhantes. Hoje não temos mais o bom-dia dado para que tu tenhas realmente um bom-dia, quando dado ele é mecânico, um gesto habitual como outros muitos que emitimos diariamente. O ser humano que pega um ônibus contigo ele tem a capacidade de pisar no seu pé, apertar-te e sentar ao seu lado e não pedir-te desculpas. Sai do seu lado como se nada tivesse acontecido...
                Os ônibus nos horários de pico funcionam como latas de sardinha, apertam-se, somos restritos aos corpos que estão dos nossos lados, nem ao menos pegar nas barras somos capazes devido ao aperto e espaço restringido. E mesmo assim o ser em quem tu te amparas não olha na sua cara, quando fixam o olhar ao seu é sinal de que reclamarão ou proferirão alguns palavrões. Sei que este assunto tornou-se páginas de uma vida banal, mas é através desta inapetência, desta letargia humana que os nossos governantes se aproveitam. Temos sim que exigir, mas mais do que isto: é vital acordarmos ao ser humano que insiste em se individualizar, em querer se esconder em seu casulo e exigir que os demais façam por ele. Uma parcela pequena da nossa população luta bravamente pelos seus direitos, os outros esperam “cair do céu”. Reclamar todos se tornaram peritos, principalmente agora com as redes sociais, porém quem são esses que acusam e nada realizam para a transformação? São peritos nas críticas, donos de argumentos convincentes, mas no momento de dar a cara às tapas, camuflam-se como o jabuti fugindo de seus predadores.

                Já está mais que na hora de retirarmos às mascaras carnavalescas, guardarmos aos óculos escuros,  não apertar com fingimento às mãos humanas,  e não abraçar como tamanduás nossos semelhantes e sermos mais humanos. Fazer realmente aquilo que escrevemos ou pregamos. Chega dessa ladainha mal rezada e caquética, ultrapassada, inverídica bradada em alto e bom som e depois aniquilada pelo seu individualismo. Pasmem-se!

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