Estava passando pelo centro da
cidade, desabitação carnavalesca, típica de uma segunda-feira de Momo e havia
uma aglomeração de pessoas próximas a alguns camelôs que diziam estar ali para
ganharem o seu “pão de cada dia”. Foi
quando olhei bem, com estes olhos de lince ganhos através destas lentes contra
a miopia e o astigmatismo e foquei naquele adolescente, quinze ou dezesseis
anos, amarrado em uma placa de trânsito, uma espécie de crucificação moderna,
clamando por ajuda.
Alguns
camelôs e pessoas que passavam pelo local pediam a cabeça do menor, outros
bradavam que ele deveria apanhar mais. O rosto cobria-se hemorragicamente, o
garoto urrava, os agentes de trânsito se posicionavam, mas eram contra a
crucificação do guri num poste da EPTC. A polícia não tinha sido avisada ou
fazia ouvidos moucos para este tipo de linchamento público. Os camelôs, que se
diziam legais perante a Lei, afirmavam terem sido roubados pelo garoto que saiu
com um pedaço de melancia nas mãos, com certeza para saciar a fome ou mesmo
para abater ao calor escaldante que por estas bandas voltou a fazer.
Fiquei
arrasado, aterrorizado com a crueldade que assola aos seres humanos e liguei
para a brigada militar. Fui logo atendido e apresentei pausadamente ao fato, ao
que via e ficava indignado, mas um senhor truculento tomou o meu celular e o
jogou no chão fazendo-o em pedaços. Reclamei, bradei, gritei pelos soldados,
mas logo muitos cidadãos aproximaram-se de mim e me intimidaram. Não tinha mais
polícia, e o linchamento continuou. O guri gritava, a dor era muita. Alguns
sorriam, outros aplaudiam, mais a frente um grupo de senhoras bem vestidas
comentavam que aquela era a melhor
atitude, uma vez que a polícia nada faz. Noutro lado da calçada outros
guris berravam, soltando gritos ensurdecedores em apoio aos camelôs. E nada da
polícia...
E
assim outros serão amarrados, linchados, atirados à Justiça Popular, porém só
negros, pobres, moradores de rua, prostitutas, cidadãos excluídos pela
sociedade. E ninguém viu, os direitos humanos realizam vistas grossas e
caminhamos por esta crucificação moderna.
Não
aguentei esperar por Justiça, a polícia não chegou, parti... E o guri ali sendo
executado pela população que fazia justiça com as próprias mãos! E nossas
autoridades nada...
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