segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ser


Gostaria de escrever um texto que pudesse atender aos anseios de diversos tipos de leitores, mas escrever “aquele” texto. Um texto que pudesse ser divulgado pelos mais importantes órgãos da imprensa escrita, assim como os jornais que assim quisesse fazê-lo. Seria feliz!
O meu texto não seria destes que ocupam páginas inteiras e não diz nada, apenas um blábláblá corriqueiro que não acrescenta. Levá-nos ao tédio, a aversão à leitura, ao ódio por alguns autores. O meu texto seria destes lapidados, burilados, feito por um ourives, pensaria muito antes de digitar as primeiras e decisivas palavras. Já vou logo avisando, o vocabulário não seria rebuscado, pois o meu texto é democrático, almejo atingir a massa, fazer com que as pessoas sintam prazer ao ler, chegar ao gozo, inspirar-se, ter um dia, uma vida melhor, mas também não farei textos de autoajuda, continuarei trilhando o caminho da crônica, árduo, estreito, mas prazeroso.
O texto que produziria seria aquele que as crianças e adolescentes pudessem ler e retornar a lê-lo, pois fiz um texto com sabor, doce, desses que dá pra sentir o gosto, exaltar ao olfato. É lógico que também almejo escrever um texto em que possa ganhar dinheiro e que possa sustentar minha família dignamente. Desejo continuar comprando meus livros, alimentando minhas filhas e também fazendo com que elas desejem ler, sintam o desejo pela leitura. Sei que as editoras são difíceis, escolhem seus escritores na ponta do lápis, mas vem cá: escrevo bem...
Queria escrever um texto em que minha esposa chegasse em casa e dissesse que o leu no trabalho, que discutiu a estética bakthiniana com os colegas de Letras e que ele havia se espalhado pelas bocas da Ciências Sociais. Também queria receber uma carta de um linguista famoso que pudesse me contradizer, criticar-me com acidez e depois os meus leitores via redes sociais pudessem me defender e estabelecer um debate de idéias e consistentes argumentos.
O texto que escreveria seria respeitado pelos mais talentosos homens da escrita brasileira: João Ubaldo Ribeiro faria a sua análise, Marcelo Rubens Paiva também; o Fabrício Carpinejar não deixaria de me elogiar, assim também aconteceria com o Caio Ritter que elogiaria, mas seria prudente e necessários os seus “toques”. Quanta beleza, que plêiade de críticos literários reunidos para opinar sobre o meu texto.

Escreveria um texto que os jornais venderiam tanto, mais tanto, que desejariam os leitores a continuação daquela crônica e no outro dia outra e mais outra até tornar-me um cronista pleno. Continuaria ministrando as minhas aulas, mas acrescentaria na lápide professor o vocábulo escritor, a mais importante e talvez decisiva palavra no processo de leitura. Escritor pra sempre. Escritor para a eternidade...

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