Gostaria de escrever um texto que
pudesse atender aos anseios de diversos tipos de leitores, mas escrever “aquele”
texto. Um texto que pudesse ser divulgado pelos mais importantes órgãos da
imprensa escrita, assim como os jornais que assim quisesse fazê-lo. Seria
feliz!
O meu texto não seria destes que
ocupam páginas inteiras e não diz nada, apenas um blábláblá corriqueiro que não
acrescenta. Levá-nos ao tédio, a aversão à leitura, ao ódio por alguns autores.
O meu texto seria destes lapidados, burilados, feito por um ourives, pensaria
muito antes de digitar as primeiras e decisivas palavras. Já vou logo avisando,
o vocabulário não seria rebuscado, pois o meu texto é democrático, almejo
atingir a massa, fazer com que as pessoas sintam prazer ao ler, chegar ao gozo,
inspirar-se, ter um dia, uma vida melhor, mas também não farei textos de
autoajuda, continuarei trilhando o caminho da crônica, árduo, estreito, mas
prazeroso.
O texto que produziria seria
aquele que as crianças e adolescentes pudessem ler e retornar a lê-lo, pois fiz
um texto com sabor, doce, desses que dá pra sentir o gosto, exaltar ao olfato.
É lógico que também almejo escrever um texto em que possa ganhar dinheiro e que
possa sustentar minha família dignamente. Desejo continuar comprando meus
livros, alimentando minhas filhas e também fazendo com que elas desejem ler,
sintam o desejo pela leitura. Sei que as editoras são difíceis, escolhem seus
escritores na ponta do lápis, mas vem cá: escrevo bem...
Queria escrever um texto em que
minha esposa chegasse em casa e dissesse que o leu no trabalho, que discutiu a
estética bakthiniana com os colegas de Letras e que ele havia se espalhado
pelas bocas da Ciências Sociais. Também queria receber uma carta de um
linguista famoso que pudesse me contradizer, criticar-me com acidez e depois os
meus leitores via redes sociais pudessem me defender e estabelecer um debate de
idéias e consistentes argumentos.
O texto que escreveria seria
respeitado pelos mais talentosos homens da escrita brasileira: João Ubaldo
Ribeiro faria a sua análise, Marcelo Rubens Paiva também; o Fabrício Carpinejar
não deixaria de me elogiar, assim também aconteceria com o Caio Ritter que
elogiaria, mas seria prudente e necessários os seus “toques”. Quanta beleza,
que plêiade de críticos literários reunidos para opinar sobre o meu texto.
Escreveria um texto que os jornais
venderiam tanto, mais tanto, que desejariam os leitores a continuação daquela
crônica e no outro dia outra e mais outra até tornar-me um cronista pleno.
Continuaria ministrando as minhas aulas, mas acrescentaria na lápide professor
o vocábulo escritor, a mais importante e talvez decisiva palavra no processo de
leitura. Escritor pra sempre. Escritor para a eternidade...
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