sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cláudia Raia e as mazelas do mundo

Ontem acordei pensando nas crianças e adolescentes atendidos pela Fundação em que atuo como coordenador pedagógico. Na vida miserável enfrentada por aquela centena de futuros adultos, na ausência de perspectiva por parte de seus familiares, na ignorância daqueles que em época eleitoral aproveitam-se dos oprimidos. Comida e roupas acabam satisfazendo-os. E até quando viver uma vida assistida? Promover socialmente é um sonho que vai se realizar.
No ônibus o pensamento que me acompanha. No caminho as ruas acomodam homens e mulheres procurando nos lixos seus alimentos; nas calçadas dormem velhas roupas humanas. Mais a frente o veículo pára, pois há um corpo estendido no chão. A mulher acena, é mais uma das inúmeras prostitutas que tentam ganhar a vida e quando questionadas sobre este tipo de profissão citam Maria Madalena como motivo da inspiração. No ponto mais adiante desce um aposentado que ainda trabalha para o sustento de seus dez filhos e suas duas mulheres. Na Vila ao lado da avenida casas de madeira alagadas pelas cheias do rio que banha a cidade, algumas destelhadas, ali caminha um homem correndo atrás de seu cavalo. Ele corre, pois aquele é seu veículo rumo ao trabalho. A mãe dá banho em seu filho na imundície do rio contaminado. Mas mais adiante outros bebem da água do mesmo córrego. Indignado quase vomito. Desço na próxima parada e de lá sigo mais duas quadras andando. Sou cumprimentado pelos moradores que se aglomeram nas ruas. Na calçada a senhora de todo dia pede uma moedinha. Outro garoto me pede o leite que sobrou de ontem na alimentação de outras crianças. Como ele sabe que sobrou leite? No portão da Fundação crianças me esperam, tomam-se da nobreza de suas personalidades, abraçando-me e radiando o sempre alegre bom-dia. As dificuldades enfrentadas por elas não são argumentos para deixarem de sorrir e serem felizes.
É hora do café da manhã. Comem ansiosamente. Vão para as atividades diárias. Já é hora do almoço. Migram para as suas unidades escolares, amanhã retornarão. Chegam os educandos do período vespertino, muitos não almoçaram e juntam-se à mesa com os educadores. Lá na esquina escuto gritos de saudação, é uma de nossas crianças. Chegamos ao final de mais um dia. Espero o ônibus para voltar para casa e assim poder beijar e abraçar minha esposa e minha filhinha, mas antes terei que passar pelas mesmas cenas vistas no início da manhã. Desço do ônibus e caminho. Na banca leio que Cláudia Raia não está dormindo porque sua personagem em uma novela global mexe com ela. Em que mundo nós estamos? E tanta gente que não dorme pelas mazelas que acontecem neste País...

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