quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Leitura e livros: uma herança


Nasci em uma cidade pacata, do interior de São Paulo. Local onde as pessoas se conhecem, oferecem um bom dia, mas que muitas vezes acabam sabendo demais.

Dono de um sotaque carregado, orgulho-me do "r" forte que soa quando balbucio alguns vocábulos. Podemos ser considerados "capiras", mas não somos bobos.

Mas quero falar das minhas experiências primeiras com a leitura. Meu pai, um jornalista perseguido pela ditadura, amante de Marx e Engels, leitor de Alphonsus Guimaraens e sua predileta "Ismália"; minha mãe pacata, pouco soube do Regime Militar, dedicada mulher, mãe e esposa, além de ganhar o nosso sustento como diarista. Perseverante concluiu seus estudos há dois anos, agora almeja uma faculdade. Leu pouco e com os estudos interessou-se mais.

Desde os meus primeiros anos os fatos registram-me em uma máquina de escrever. Gibis foram inúmeros, pois meu pai fazia questão que o hábito da leitura fosse nosso. Isso tornou-se realidade. Lí muito. Não tomei gosto pelos escritos marxistas, mas o ato de escrever é parte da minha vida e a literatura é refletida nos meus livros que carrego para todos os cantos. Da leitura herdei o ofício de ser professor de Língua Portuguesa e Literaturas, enveredei-me, também, pelos escritos da educação, mas a escrita é o meu conforto.

Os livros, meus companheiros, possuem diversas histórias ao meu lado. Quando cheguei aqui no Rio Grande do Sul trouxe três malas, duas tinham apenas livros. Sabia que seriam importantes e foram. Desempregado tive que vender 40 livros. Pouco foi-me oferecido, mas vendi. Há poucos dias sofri um acidente, fui atropelado por um "motoboy", fraturei o úmero, realizei uma cirurgia e estou me recuperando. Na abordagem policial, realização do B.O (Boletim de Ocorrência), o policial perguntou-me se eu possuia algo de valor;disse eu que os livros; ele não convencido indagou-me e repetiu a pergunta, respondi que eram os livros; ele não acreditou, talvez por nunca ter lido.

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