segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Da janela

A janela sempre foi o meu lugar predileto ao longo de qualquer viagem que realizaria. Não era o lugar escolhido por comodismo ou pela moda estampada e divulgado pelo popular jogador Romário. Era o lugar que escolhi para apreciar as belezas idealizadas e divulgadas pela “Mãe Natureza”.


Passei por alguns lugares, cuja vegetação seca não era sinal de “vacas magras”, pelo contrário, apontava para um destino de soluções encontradas, garimpadas pelo povo destemido daquela região. Crianças barrigudas, homens macérrimos, mulheres grávidas do décimo filho, gravidezes. Mas não eram cidadãos que reclamavam da vida, apontavam resoluções e buscavam-nas. Quanto estimulo sentia quando por ali passava. O verde era escasso, mas o brilho da esperança era rejuvenescedor.

Já pelos vales gigantescos e verdes pude passar, contemplar as cachoeiras, admirar ao cantar dos pássaros, iluminar-me com o nascer do Sol e me afogar com o seu pôr. Mas, hei de saber que a noite se aproximava e com ela o luar enriquecido pelo escuro da mata e a falta de energia elétrica. O computador nunca me fez falta, pois a natureza me amparava.

Trafegando de ônibus pela cidade pude vivenciar cada cena apreciada pelas janelas dos circulares. Andarilhos espalhados pela cidade, o vendedor de jornais, a senhora que limpava sua calçada sempre naquele mesmo horário, a criança que estava na calçada para cumprimentar o motorista que ficava todo exibido. Quanta vida passava pela aquela janela, quanta esperança guardada naqueles corações. E a mãe que busca seus quatro filhos no colégio e depois pegava os dois da vizinha. Eram seis crianças sobre sua tutela. Quanta responsabilidade e solidariedade.E olhem que existem pais que não conseguem controlar seu único filho. Dão essa esperança à escola. Ou abandonam nas mãos dos Céus.

A janela sempre foi para mim o lugar do contemplar, ver a vida passar, sentar-se com ela, dialogar sobre o seu destino, fazer a coisa certa (?). Às vezes me esqueço, e com freqüência isso vem acontecendo. Coma correria do dia-a-dia já não me lembro mais da janela, passei a me sentar na poltrona do corredor, almejo ganhar tempo. Esqueci-me do belo, do céu azul, das nuvens e suas esculturas, do verde esperança da paisagem, das boas pessoas, das amizades lapidadas, dos velhos e eternos amigos. Parece que não tenho família, ausentei-me de minha filha, esqueci-me da minha esposa. Cadê minha família?

De fato a janela não faz parte mais das minhas viagens, preciso revisitá-las como revisito aos Clássicos.

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