sábado, 5 de dezembro de 2009

A falta de preocupação com o texto blogado

O termo blogado leva-nos a um neologismo, que há alguns anos não tínhamos imaginação para o surgimento deste vocábulo. Escrever para ser lido em instantes, devorado como as antigas e inesquecíveis crônicas. Quem não se lembra da seção “Ao correr da pena”, assinada por José de Alencar no periódico “Diário de Notícias?”. E as fabulosas elaborações de Machado de Assis. Mas não saem da minha cabeça as tradicionais análises do cotidiano de Lima Barreto e Rubem Braga. A atmosfera realista de um, o sonhar excessivo d’outro.


Mas o que esse texto, provindo dos populares blogues tem a ver com as preferenciais crônicas? Nada. Absolutamente nada. É popular. Lido por muitos. Confesso ter o meu. Acessado por poucos leitores. Literariamente não possui status. É pobre. Escrito por muitos que ao menos rascunhar o m antes de p e b sabem.

Fico feliz quando leio textos simpáticos, dotados da formula para o pensar, algo que lhe inspire, leve-nos a buscar soluções mesmo que o escritor tenha nos mostrado a sua. Sei que nesse tipo de texto prevalece o caráter individual, mas falta muito para se tornar uma análise, um laboratório de idéias, produtivas, que fique bem claro. A verdade é uma só. Os textos blogados só tem saída devido uma centena de milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo, que possuem um microcomputador e se afastaram das cópias impressas. Talvez seja por isso que os nossos escritores partem atrás desses leitores, que são muitos, e escrevem compulsivamente em seus diários eletrônicos. Saramago é um viciado nesse tipo de texto e promete, depois de “Caim” lançar o seu livro com textos postados em seu blogue. Já Caetano Veloso não escreve há três meses, excesso de shows. Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Márcia Tiburi, Rubem Alves e outros tantos autores escrevem e polemizam em seus diários da vida moderna. Relatam, instigam nossa imaginação, despertam o faro tapado do leitor voraz; artistas, modelos, cantores possuem os seus e muitas vezes são mais lidos que os acadêmicos e inteligentes escritores. Talvez seja essa a solução: textos simples, apáticos. Desinibidos e pobres literariamente. Cheio de erros grosseiros. Uma gramática inventada e sem destino. Faltam-lhes objetivo. Escreve que fui ou vou à praia e todos fazem comentários. Santa ignorância. Inquisição neles! Quero o meu livro de volta.

Não tenho nada contra os blogueiros, mas tenham cuidados no momento que apresentam seus escritos aos leitores. Eles são merecedores dos textos mais lapidados, sei que trabalhos de ourives muitos não conseguirão realizar, mas, por favor: tenham paciência para escreverem os seus textos. Cuidem do nascimento. Aprendam a afagarem os seus escritos. Zelem pela cultura da humanidade. Não propaguem a ignorância. Trabalhem para a diminuição do número de analfabetos funcionais e não para o seu alastrar.

Muito obrigado!

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