sábado, 30 de janeiro de 2010

Educação, Ditadura e a Responsabilidade Familiar

Parei para pensar do momento em que entrei na escola e o quanto sofri com a separação de minha mãe.

Era 1985 e a ditadura militar acabara, o sonho da liberdade fora consumado. Ainda persistiam nos colégios públicos as aulas de Educação Moral e Cívica e OSPB, mas o fedor militar se afastara de nossa derme. Ainda me lembro do Hino Nacional sendo executado todas as quartas-feiras. E lá estávamos orgulhosos, em filas, balbuciando a positivista letra de nosso hino.

Com o falecimento do Presidente Tancredo Neves (lembro-me de seu semblante refletindo sua moralidade) o medo retornou aos corações de inúmeros brasileiros, pois era a chance que muitos homens da ditadura desejavam para retornar a sua glória. Já estava decidido: o que foi conquistado por uma imensidão de brasileiros jamais, os homens da morte ousariam desfazer. Seria um absurdo, uma afronta a um povo que se mostrou unido e inteligente. Vencemos com classe. Venceu a sabedoria. Renasceu a liberdade.

Lá estava, entre o anuncio triste do Brito sobre o falecimento do Presidente Tancredo e o início de uma nova etapa em minha vida. Deixava o seio materno a fim de ganhar a acidez da sociedade. Tudo parecia difícil, principalmente para nós que não tínhamos tanto dinheiro quanto os meus colegas da escola. Estudava no Aníbal do Prado e Silva e tive como diretora a competente professora Darci Ferrari de Camargo Lima. Minha primeira professora foi a Dona Lídia Miziara, mas fui alfabetizado pela professora Irinha. Quanta saudade... Mas foi difícil para minha mãe conseguir me deixar na escola, ou seja, eu não queria ficar. Tinha medo. Algo me causava pavor. Era o medo da separação. E também nunca tive a oportunidade de me dirigir mais cedo para o convívio escolar, talvez aí repousa essa aversão.

O que me impressiona é que mais tarde fui despertado pela carreira docente. Imaginava-me professor. A princípio a pesquisa, mas quando tive a oportunidade acabei lecionando e tomando gosto pelo ensinar. Já faz onze anos da primeira aula que ministrei lá na Escola Estadual Professor Francisco Silveira Coelho, cuja diretora era a esposa do Dr. Hamilton Aiéllo, a professora Neda Aiéllo. Que prazer! Sensação maior foi quando entrei para lecionar no Aníbal, na classe onde havia estudado pela primeira vez. E a sala dos professores? Um mistério para nós quando alunos. O que conversavam? Falavam de nós. Naquele momento em que vestira o avental do professor vivenciei cada momento de minha vida pueril. Gratas lembranças. Agora sabia o que se discutia entre os docentes numa sala de professores. Tomava do seu cafezinho e de vez em quando eram salgados, bolos etc. Quanta mordomia... Vida dura é a de aluno (só essa é que me faltava).

Hoje olho para minha filha Beatriz no auge de seus vinte meses e não quero que tão já ela seja lançada aos bancos escolares. Se podemos conviver com ela no seio familiar, mesmo que para mim por pouco tempo, temos que administrar esses recursos. Se a mãe ainda pode cuidar dela sem problemas, qual o motivo que me levaria a destiná-la a um colégio com tão pouca idade? Talvez pelo fato de ser um coordenador pedagógico, um professor. Desde já quero deixar claro que não concordo com essas idéias. Criança tem que conviver com os amigos, mas necessita do lar. Quando chegar o período obrigatório de minha filha se dirigir a uma escola, com certeza serei o primeiro a realizar tal feito. Afinal não sou contra a escola, sou a favor do filho ser educado pelos pais.

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