sábado, 1 de maio de 2010

Declaração de amor

Há tempos não parava e começava a escrever um texto, mesmo que simples. O tempo caminhava contra esse meu verdadeiro labor.

Gosto de escrever; adoro brincar com as palavras, mas meu ofício verdadeiro com elas é nos esbaldarmos numa noite de amor. Como é bom fazer amor com as palavras! Não faço sexo com elas, apenas amo-as. Tocá-las, sussurrá-las, embalá-las numa seqüência que as admire e também os apreciadores dos bons vocábulos e dos belos textos. É um prazer inenarrável, somente aceito pelos que com as palavras lidam amorosamente.

Há alunos que chegam até mim e me afirmam não ter talento para a confecção de um texto ou, mesmo, que não há idéias para confecção do mesmo. Vou logo os avisando e concluindo: já praticou sexo? Já, para o meu espanto, e amor? Não. Porém nasce aqui a minha resposta: eles não sabem o que é carinho, afeto, paixão. Sabem lidar mecanicamente com os vocábulos, esquecendo-se da sua essência, do seu emaranhar, do seu tecido. Poucos são os que aproveitam o primeiro contato com um texto para sugar-lhe seus atributos mais fecundos, sua naturalidade, o amor exalado. Preocupam-se apenas com o carnal, com o sexual, e a palavra como um substantivo feminino não quer apenas isso, carece de “amore”, necessita de paixão. Felizes dos que tocam em sua essência, que abrem o seu coração e declaram amar as palavras.

Não sei, mas foi amor à primeira vista, quando cheguei na escola o meu caso de amor com os vocábulos já era antigo, pululava sentimentos, carregava emoção, sabia que era amor. Meus colegas pouco entendiam, mas não ligava e continuava a alimentar a minha paixão. Na adolescência continuou, intensificou, nosso paralelo não foi rompido, éramos “unha e carne”, “sentimento e coração”.

Hoje cá estou mais uma vez declarando minha paixão em público, deixando claro um sentimento puro, que começou num momento pueril, mas que sabíamos que era verdadeiro, talvez por isso ela tenha dado-me a chance de escrever e assim aproveitar para exibir essa declaração de amor.


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