quarta-feira, 14 de julho de 2010

A hipérbole do choro

Com a certeza de que tudo estava acabado aquele garoto de pouco mais de dois anos chorava hiperbolicamente após a derrota da Seleção Brasileira de Futebol para a Seleção Holandesa. Eram as lágrimas da derrota. Certo que o choro era momentâneo, os pais consolaram o pequeno em sua primeira derrota numa Copa do Mundo e, talvez, primeira na vida.

Perdas serão muitas ao longo da vida, terá sim suas alegrias, mas as derrotas surgirão: na vida pessoal, profissional etc. Essa convivência com esses momentos tristes necessitarão de amparo, os pais serão o alicerce e futuramente os colégios terão de demonstrar que na vida suas vitórias serão escassas e as derrotas serão em números maiores. Perde-se hoje, amanhã também, quiçá no mês que vem ganhe algo.

A Progressão Continuada que se instalou há anos no sistema educacional brasileiro fez seus adeptos, conquistou alunos e pais de discentes, porém criou uma legião de analfabetos funcionais. Jovens que lêem, mas não conseguem interpretar aquilo que leram se multiplicam, adolescentes desacostumados a pensarem. Cálculos matemáticos impossível, não estão acostumados a lidarem com os números, os símbolos não fazem parte do singular vocabulário que possuem. E onde entra a derrota? A Progressão Continuada estimulou o culto à liberdade, está que com o passar do tempo associou-se à libertinagem. O estudante não sabe ganhar. Quer ganhar sempre, nem que seja para trapacear, mas todos querem obter vantagens. A cola é um exemplo descabido dessa avassaladora onda de libertinagem. Eles querem é conseguir notas para sua aprovação. Não querem aprender, muito menos se tiverem que ficar um, dois, três anos na mesma série.

Os pais acompanham essa posição vergonhosa e estimulam seus filhos a serem assim: “se Fulano pode colar, não estudar, você também pode! Se caso o meu filho ficar retido ao final do ano vou logo tentar dar um jeitinho, aciono logo à Secretaria da Educação e a Lei acaba ficando a meu favor. Meu filho foi aprovado! Viva a Lei! Abaixo ao conhecimento!”.

A reprovação seria uma maneira de mostrar aos futuros ministros, deputados, senadores, médicos, professores (quem a de ser?) que a vida é um mar de incertezas, de derrotas e que deposita o choro. A escola e a família teriam nessa prática uma maneira de punir o discente, assim como a vida o punirá se não demonstrar esse conhecimento. Sem conhecimento não há progressão e o nosso atraso fica demonstrado em dados estatísticos mundiais recentes, cuja educação brasileira ocupa as últimas colocações. As lágrimas demonstram subjetividade, emoção, porém são capazes de visionar que um futuro promissor pode nos esperar, basta começar a ensinar-lhes as lições da vida, e a reprovação é uma delas.

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