quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um passado não muito distante

Quando passei e notei que aquele carro estava com dificuldades tratei logo de acelerar os passos. Ajudaria se fosse o caso, mas não queria ver aquela cena se repetir. Aquilo já havia acontecido comigo. Todos sabem da minha dificuldade em pilotar um veículo. Mudar marchas, acelerar, pisar na embreagem, é muito para a minha cabeça. E tem mais: manter atenção nas curvas, se atentar aos lados e atrás, também me reprovam. Definitivamente não tenho as artimanhas para dirigir um automóvel.

Não fui reprovado pela as autoridades competentes quando fiz o exame, muito menos me dar mal enquanto pilotava nas aulas. Era tido como um dos melhores. No dia de meu exame estava ansioso, suava, tremia, andava de um lado para outro na expectativa. Segundo a ordem alfabética seria um dos últimos a ser chamado, pois meu nome começa com a letra S. Não aconteceu, fui o primeiro nome a ser chamado, o delegado de trânsito foi logo mudando e me chamando. Tratei logo de me apavorar, suei mais, minhas unhas sumiram, estava nervosíssimo. Tinha que enfrentar ou esperar mais quinze dias para um próximo exame caso fosse reprovado. Passei. Desfilei com orgulho.

Na semana seguinte após o meu feito como piloto fui logo tratando de comprar um carro usado e andar pela cidade, mostrar a minha família e as demais pessoas que estava apto a dirigir. Parece que o apoio do instrutor e a pressão expressa na face do delegado rígido haviam me deixado e ali começavam os problemas. Inúmeras vezes o carro parou, literalmente “afogou” e nem São Brás para salvá-lo. Até São Cristóvão foi acionado, mas não deu jeito. Rampa não fazia. Impossível para este cidadão. Minha avó perdeu as contas de quantas toalhas me dera para que pudesse enxugar ao rosto úmido. Umedecido pelo anseio de dirigir bem. Sem contar às simpatias que fizera para perder o medo.

Mas aquela primeira batida no estacionamento da escola onde lecionava, talvez tenha provocado este medo. O carro foi de encontro ao poste. Apenas uma semana de uso. Resultado: todo amassado. Alunos e professores tentaram me consolar, pois se tratava de meu primeiro acidente. O carro foi para o conserto e tratei logo de continuar a dirigir. Aquilo era passado e quem vive dele são os museus.

Ao longo de um ano muitos foram os acidentes: muros quebrados, rostos feridos, carro amassado, em várias partes, pagamentos aos carros atingidos etc. Uma vergonha! Não parecia aquele garoto de vinte e um anos que dirigia com tranqüilidade no dia do exame.

Cheguei à conclusão de que carros não são para mim, muito menos para que eu os dê o comando. Já se foram onze anos do dia em que conquistei a minha carteira de habilitação e nunca mais acelerei um automóvel. Ontem, quando a garota, acelerava desesperadamente, naquele mesmo local a cena retornou a minha mente e tratei logo de continuar a andar com meus próprios pés.

Nenhum comentário: