domingo, 12 de setembro de 2010

Menos Tarjas-Pretas e mais Escrita

Às vezes as pessoas perguntam por que sou tão calado, talvez seja pelo fato de ainda eles não terem me dado a oportunidade de falar, exprimir-me. Mas o grande motivo do meu emudecimento seja a descarga lançada na escrita. Não me preocupo por que não falo, mas a minha dúvida maior é quando não escrevo. Aí temos um sinal: algo está mal. Problemas devem ter acontecido e o que era para se manifestar através da escrita não saiu.

Esse diálogo que o escritor possuí com o seu texto e com os sentimentos que afloram ao longo de seu comportamento é bonito, maravilhoso. Não temos a necessidade de nos dirigir aos analistas, ingerir remédios (já consumi vários) ou mesmo procurar um psiquiatra. Não vou mais. Cansei. São os mesmos conselhos, as listas enormes de medicamentos etc. A escrita pode nos curar, basta se equipar: muita leitura e as demais ferramentas que lhe proporcionam aparecer seu texto no papel. Daí em diante é só começar a refletir e mandar para o antigo papiro. Tudo pronto, algumas revisadas, pois o trabalho do ourives deve, ainda, permanecer e mais adiante é só pegar e enviar ao seu órgão de comunicação predileto ou àqueles que aceitam os seus escritos.

Tenho um amigo, o Angelim Barbeiro, figura carimbada aqui na cidade de Taquaritinga, já foi vereador, um exímio contador de causos que ele jura serem verdades, passa a semana toda lapidando o seu texto. E com ele os recursos da Internet são inviáveis, relaciona os seus tecidos como um artesão, uma espécie de Suassuna, que não utiliza o computador, nem sendo pago para que tal ofício seja realizado. Semana passada li um texto dele, antes de ser lapidado, apenas o esqueleto. O Ângelo é perfeito. E olhem que os momentos em que ele escreve é quando não há ninguém em sua barbearia (o que é difícil). Seus causos são motivo de alegria para aqueles que lêem e, também, para ele que escreve. O Barbeiro da Carlos Gomes está sempre de bem com a vida. Não sei se ele toma algum medicamento para o estresse (ele não pode ser estressado com tanta alegria demonstrada pelo seu rosto).

E esses novos escritores que despontam, consagram-se pela mídia ou mesmo nos saraus, eventos culturais, não serei hipócrita de dizer que são todos felizes, mas no momento em que a escrita é dada como momento de suas vidas a felicidade, mesmo que estajamos escrevendo sobre algo triste, ela é maior, pois aquilo nos satisfaz. Quantos discentes possuo que mesmo na sua deficiência com a língua portuguesa escrevem para banir a tristeza de seus corações... São inúmeros. Meninos e meninas que ao longo dessa avalanche de informações, ausência familiar, traições amorosas descaradas, enfrentam esses problemas desembocando-os na escrita.

É por esses e outros motivos que a partir de agora médicos, que lidam com as questões psicológicas nunca mais, tenho um artifício muito maior que é a escrita, que sempre me ajudou e ajudar-me-á. Também não leiam livros de auto-ajuda (autoajuda, na nova ortografia), Machado de Assis, Balzac, Dostoievski, Nietzsche são insuperáveis, esses são os verdadeiros tarjas-pretas.

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