quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Não sei o que meus pais fizeram no verão passado

Lembro-me do título de um filme, “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado...”, e logo me fez refletir sobre os descaminhos tomados pela educação familiar.

Sei que os pais devem estar atentos aos rumos tomados pelos filhos quando atingem a adolescência. É hora dos responsáveis intensificarem os seus radares e desenvolver o seu poder de argumentação, dialogar nestes casos talvez seja o melhor remédio. Sem conversa não há qualquer tipo de relação amigável. Pode sim predominar o autoritarismo, e nesse caso a relação tornar-se-á conturbada regada a muita discórdia.

De fato o que se passa nesse processo de inércia é a terceirização da educação. Sei que aqui adentro ao clichê, e como todos sabem essa explicação tornou-se “feijão-com-arroz”, mas não podemos fugir da realidade. Os pais querem cada vez mais viver distante de seus filhos, principalmente se o garoto ou garota lhes dão muito trabalho. Se a escola liga pedindo para que o responsável se dirija àquele estabelecimento de ensino, o pai vai logo avisando que problemas não fazem mais parte do seu vocabulário, definitivamente abandonou sua cria. Mesmo que a notícia seja para elogiar ou exaltar o brilhante comportamento dos filhos, os pais já recebem seus interlocutores armados: “Lá vem problemas...”. O mais complicado é que essa situação poderia ser definida se o pai ou responsável comparecesse a uma única reunião. Lá os detalhes seriam tratados e os problemas solucionados, mas não, os responsáveis não têm mais tempo. Mas o que é isso? Não se tem mais tempo para seu dependente?

Há alguns anos venho notando o baixo comparecimento dos pais em sessões, cujo tema seja vida escolar de seus pupilos. A desculpa mais descabida é que falarão mal de seus filhos. Sabemos que o caminho não é mais este e que cada vez mais as escolas procuram dinamizar suas reuniões e os problemas são tratados separadamente em busca de uma solução. Se o objetivo é se livrar de mais uma reunião, como denominam, não utilize este argumento, pois estará arcaico, utilizando-se de um vocábulo ou uma expressão em desuso.

Mas o que mais me preocupa são os paradigmas. O modelo de bom pai ou boa mãe saiu de cena para dar lugar a uma mãe preocupada só com o trabalho, afazeres domésticos e a telenovela das oito que começa às nove horas; um pai que não tem tempo mais para brincar com seu filho, perguntar como foi seu dia na escola, indagar se tem tarefas a realizar. Esse modelo sumiu. Poucos são os pais que ainda conservam esse denominado passado constrangedor. Pais modernos não fazem mais isso. Desde os primeiros aninhos o filho tem que aprender a se virar. Papai trabalha e mamãe também. Mas o estudo não é um ofício? Além de trabalhar o que estes pais andam realizando, pois não se preocupam mais com seus pupilos, algum tempo deve lhes restar. Perderam as rédeas da situação. A liberdade foi confundida com a libertinagem e os pais não são mais pais de seus filhos, são os amigos. Daí a independência juvenil. A reunião em torno da mesa da sala de jantar ou da própria cozinha para realizar as refeições foram abdicadas, tornaram-se extintas. Extirparam esta virtude. Quanta coisa falta para essa família moderna que ainda não conseguiu se estruturar.

Parafraseando o nome da película: o que seus pais andam fazendo? Simplesmente, não sei.



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