domingo, 19 de setembro de 2010

Pseudofetiche

Pensei que fosse fetiche, tratei logo de colocar o avental, retirei minha camiseta, meu dorso estava nu, e comecei a fingir que lavava os utensílios do almoço.

Minha esposa chegou, olhou-me fitou com aquele olhar que só ela sabe fazer, logo fui animando-me, parecia ser prazer, não me enganaria naquela altura do campeonato, quase três anos casados via medidas cíveis. Parecia ser seu interesse algo que a provocava, que não conseguia dominar. Homens vêem mulheres vestidas de faxineiras, domésticas, enfermeiras vão logo se enchendo de empolgação, e com ela parecia não ser diferente. Era o seu marido como ela nunca tinha visto antes na história deste País. Agora vai!

Fingi que quem notara sua presença, fiz cara de mau, enchi o meu peito, fiquei mais forte fisicamente, parece que seu interesse aumentara... Empunhei uma travessa enorme com uma mão só, fazendo um tremendo esforço, algo difícil de acontecer com este homem sossegado, leitor voraz e a favor do ócio. Trabalhei muito para que ela me notasse, visse a exuberância dos meus músculos, encantasse com minhas asas atléticas que me levariam ao Olimpo. Era “eu na fita”, como dizem os meus alunos.

Agora tive a coragem de encará-la, olhei-a fixamente e ela com aquele olhar oriental ficou a me observar, não o obliquou e depois de tanto esforço consentido por minha parte ela é só risos, admira-se de me ver com o avental e aquela situação que era para exaltar minha sexualidade, explodir em fetiche, transformou-se em humor.

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