segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Intestino preso, o caso Dilma e a leitura

Esperava o meu pai, que vinha até em casa para terminar de digitar alguns textos que enviaria ao jornal. Esperava. O velho não chegava. A dor de barriga apertou, abri o vidro que serve como uma película à porta e me esqueci das chaves que ficaram escancaradas na porta. Ele não chegava.

Lá no banheiro, empunhado o jornal o Estado de São Paulo que estampava a vitória da nossa primeira presidenta da República, aguardava tranqüilo. Que bom. Bom nada era ver a vitória da petista, ou seja, a vitória do grande Lula, mas abriu o portão do condomínio, escutei. As chaves se viraram, não chamaram, achei estranho, mas entrou. A porta do banheiro encontrava-se aberta já que minha esposa e minha filha dormiam no andar superior.

A sombra se aproximou e quando fui surpreendido eram dois garotos, sem máscaras, com dois canivetes, armas brancas, mas nada que lhes impusessem a paz. Pediram-me dinheiro. Não poderia levantar. Estava complicada a situação, tenho o intestino preso e passo horas no banheiro. Insistiram. Levantei-me e um dos garotos disse que não necessitaria fazer a higiene pessoal (como se fosse ele...). Com as calças baixas e os jornais nas mãos, vistoriaram o território comestível: a cozinha. Comeram de tudo que tínhamos ali, até o leite Molico e a papinha que a Pri havia preparado para minha filha Beatriz eles usufruíram.

Insistiram pelo dinheiro, mas o único que tinha eram os três reais que levo para pegar um moto-táxi para dar aulas. Eles não quiseram, acharam muito pouco. Saciada a fome pediram para usar o banheiro. Um utilizou-se apenas do vaso para o xixi, o outro foi acometido por uma dor de barriga e, ainda, pediu meus jornais e balbuciou algumas palavras. Pouco sabia ler. Disse-me que não foi à escola e o pouco que sabia foi com a ajuda de um irmão mais velho que dava aulas de Inglês. E ele só roubava por prazer, pelo ócio. Indaguei-o: por que não a leitura para preencher este vazio? Ele gostou dos jornais, afirmando que votara na Dilma, pois gostava do Lula, o outro disse ter anulado, pois seu voto no primeiro turno foi para a Marina, que para ele parecia com a Maria Bonita, aquela esposa do Lampião.

Deu descarga, apertou o perfumador e pediu desculpas. Agradeceu a comida e disse que começaria a ler, mas que os jornais seriam o primeiro passo, depois tentaria absorver os clássicos que lhe receitara.

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