sábado, 6 de novembro de 2010

Paradigmas da Discórdia

Deram cinco horas. Ele pega o controle, abre a geladeira, empina uma latinha de cerveja, puxa o seu lacre e pumba, era a onomatopéia que sua esposa já estava cansada de escutar.

Na quarta-feira também era assim, as rodadas dos campeonatos futebolísticos se apresentavam após a novela das oito que começava às nove. As dez tinham jogo. E lá se repetia o ritual marital. Caixas de doze latinhas eram consumidas durante apenas o primeiro tempo, no segundo tempo tinha mais: eram mais doze. Não fiz as contas, mas ele consumia muito álcool. Mas foi assim ensinado, seguiu o modelo de seu glorioso pai, um grande escritor, mas um daqueles beberrões, que colocava Vinicius de Morais no saco.

Era o modelo, o paradigma estava sendo copiado, seu filho seguiu os passos paternais e conseqüentemente o filhinho do casal terá o mesmo destino, não sei se tomando cerveja em casa ao assistir a um clássico futebolístico, mas provavelmente cairá cedo no mundo das drogas lícitas ou ilícitas.

Não estou aqui fazendo afirmações para você deixar de beber, de fato esse é um problema crônico que afeta milhões de cidadãos brasileiros e que vem destruindo lares e edificando a discórdia. Não falo através de uma palavra que me consagre como religioso, escrevo como um educador, um escritor acostumado aos paradigmas errados, mas sempre fui alertado e salvo quando necessitado. Meus pais erraram como muitos pais também cometem e cometeram erros, só que souberam nos corrigir, falo em primeira pessoa do plural porque tenho mais irmãos e hoje estou preocupado com os caminhos pelos quais transitam nossos jovens. Trilhas escuras e embriagadas, fumaças inebriantes e um cheiro fétido de maconha queimando no ar. E onde estão os pais desses adolescentes? Dormindo, rezando, outros desesperados a procura de ajuda... Mas não souberam educar, não souberam dialogar, esqueceram-se do amor, terceirizaram a educação.

A escola não palestrou, não informou, não preparou os seus docentes para lidar com esses problemas. A sociedade brasileira deita-se na sarjeta, ao som da música fúnebre, da penumbra e do cheiro de cachaça que se espalha pelo ar. Afinal para que tantas festas movidas a bebida e um mínimo de eventos culturais? Será que Caetano Veloso estava certo ao cantar o samba, o suor e a cerveja?

Será preciso repensar os nossos modelos de encarar como atingir o ápice da felicidade e a buscar uma nova cultura, que nada tem haver com bebidas e drogas.

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