sábado, 25 de dezembro de 2010

A nudez do rei e o amor

Talvez tenha lido muito pouco nesses últimos meses e não me sinta capaz de traçar algumas linhas para compor meus textos. Mas o amor é maior e todos os escritos devem nascer de palavras iluminadas regadas a esse sabor romântico.

Ela o amava e ele também. Foi assim quando os olhares se cruzaram em um primeiro encontro. Era o nascimento, o surgimento de uma relação perfeita. Ele obedecia aos seus chamados, ela acredita em seus ditos. Comiam, amavam-se, dormiam colados. Ele roncava e ela não se importava, ela arrotava após as refeições e ele nem ligava, acreditava ser típico de civilizações orientais (mesmo a mulher não sendo oriental e nem mesmo pertencendo a nenhuma religião daquela parte do mundo). Foram anos assim, observando as mesmas paisagens, enxergando estrelas em céus escuros encobertos pela poluição, anunciando dias lindos quando aquela chuva volumosa caía e desabrigava milhões de pessoas espalhadas pelo nosso País.

A música era suave, o canto dos pássaros alimentava-os, o sorriso para os vizinhos parecia convincente, pelo menos todos acreditavam naquele ar de felicidade que emanava daquele casal. O amor era lindo como contavam os livros ou como queriam os escritores de auto-ajuda. Fazia o casal perfeito não como Wood Allen desejou, mas eram sinônimos de amor perfeito. Que felicidade!

Aos poucos os vizinhos foram tornando-se íntimos do casal e aproveitavam para fazer algumas perguntas típicas de colunistas fofoqueiros. O primeiro filho quando viria? De onde brotava tanto romantismo numa relação recente? Era o amor das primeiras horas, dos primeiros dias, dos primeiros meses, do primeiro ano... Quantos primeiros. Mas será que era verdadeiro, transparente? Ela não podia engordar, pois mulheres magras era o seu deleite. Exercícios pela manhã, caminhadas durante o período vespertino, pouca comida. Tinha medo de perdê-lo. Sujeitava-se aos caprichos masculinos. Vivia regrada pelas ordens de seu marido. Certa vez ela chegou à Faculdade e me disse não agüentar mais viver assim. Aconselhei-a conversar com o marido, relatar sua insatisfação. Era o que um casal apaixonado deveria fazer.

Na semana seguinte soube que o casal se separara, ela deixara a Faculdade e ele já desfilava pela cidade com outra mulher. Os vizinhos não se conformavam, as paisagens ruíram, o céu realmente escureceu, a chuva voltou a cair e alagar toda a cidade, o verde deu lugar ao cinza da poluição. Parece que as brancas nuvens provaram não ser reais e que o amor daquele casal não era verdadeiro. Passaram pela primeira tempestade e o barco afundou. Seus tripulantes não souberam conduzi-lo. O rei de fato estava nu.

Nenhum comentário: