sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A contemporaneidade exalada pelas obras de Lima Barreto

Vivemos em um País que as desigualdades sociais perambulam expostas nos mais distantes rincões. Mas há séculos este panorama igualava-se. O mesmo desenho que identificamos passar pelos nossos olhos eram sinônimos de grandes lutas e sangrentas batalhas. O lado social, a diferença grotesca de classes propiciava aos nossos habitantes o drama da fome, o racismo, a corrupção e tantos outros temas que insistem em permanecer nas nossas terras apesar da avassaladora onda de tecnologia.

Falar em comparações, analogias e deixar de mencionar às obras do escritor negro Afonso Henriques de Lima Barreto seria uma heresia. Lima Barreto, como popularmente era conhecido, nasceu na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro no ano de 1881. Filho de um tipógrafo e de uma professora primaria, aos sete anos perdeu a mãe. Proclamada a República, seu pai é demitido da Imprensa Nacional pelo fato de lá ter entrado pelas mãos do Visconde de Ouro Preto (sinto o odor político). Graças a proteção do Visconde, seu padrinho, Lima Barreto pôde completar o curso secundário e matricular-se na Escola Politécnica (1897) que freqüentaria até abandonar em 1903. Seu pai enlouqueceu e o escritor carioca passou a viver como funcionário da Secretaria da Guerra e a colaborar com artigos para a imprensa.

Afonso familiarizou-se com a melhor tradição realista e social e foi um dos raros intelectuais brasileiros que conheceram, na época, os grandes romancistas russos. O grande escritor pré-modernista, autor de inúmeras obras: Recordações de Escrivão Isaías; Triste Fim de Policarpo Quaresma; Numa e Ninfa; Os Bruzundangas; Cemitério dos Vivos e Diário do Hospício (esta a qual me dedico academicamente).

Mas focarmos apenas no campo biográfico do autor acabaria deixando-o inferiorizado, pois Lima Barreto expressou o que há de mais contemporâneo em nossa sociedade, mesmo vivendo há quase dois séculos. Seu retrato biográfico seria a fonte de inspiração para a constituição das suas ideológicas obras. O seu ressentimento não o impediu de ver e de configurar com bastante clareza o ridículo e o patético do nacionalismo tomado como bandeira isolada e fanatizante: no Major Quaresma. E não só no campo ideológico que sobressai a coexistência de representação e espírito crítico. Também no estilístico. O que representa espontâneo em sua prosa é, no real, consciente e polêmico.

Em seus romances há muito da crônica, destinados através das cenas cotidianas, do jornal, da burocracia, do ambiente, fluídos numa linguagem desambiciosa.

De fato a obra de Lima Barreto merece ser estudada e comparada aos tempos atuais, pois pouca coisa, ou quase nada, foi mudado significando um desdobramento do Realismo no contexto da Primeira Guerra Mundial e das primeiras crises da República Velha.



P.S.: Seu romance social é retomado na década de 1930 pelos modernistas pertencentes à Segunda Geração.

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