quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Odor

Aquele cheiro começou a incomodar. Há dias chovia incessantemente. As águas de Pedro não davam trégua. E as roupas se acumulavam, pois não poderiam ser lavadas. Então dezenas de peças foram sendo empilhadas, uma torre havia sido construída. Talvez o cheiro que impregnava o ar saísse daquela torre.

Não era. Conferiram. Olharam nos sapatos que procuravam um espaço ao se espalharem pela sala, poderia as meias estar fedendo. Todos os pares foram cheirados, conferidos pelos que ali se aglomeravam, pois a casa mais parecia uma pensão onde ninguém paga, mas todos consomem.

Verificaram se o cãozinho de estimação não estava em algum canto, pois há dias não aparecia para comer os restos de comida que num canto da cozinha ficavam estocados a espera do pulguento. Pulguento sim, pois o animal vivia cheio dessa praga que dizima os caninos, suga o seu sangue, passe-lhes doenças nunca diagnosticadas pelos veterinários. O cachorro resolveu aparecer depois de alguns dias, parece que não queria ficar com o estigma de que era ele o fedido. Aproveitou para comer aquele resto de comida que naquele canto se aglomerava, ajudando na limpeza.

A batalha continuava e o cheiro aumentava. Não demorou para que os vizinhos dos apartamentos daquele andar reclamassem. A exigência do síndico foi imediata e uma reunião com todos os condôminos foi solicitada. Nada foi decidido, apenas que os demais moradores ajudariam na procura. De pás em mãos, vassouras, rodos, baldes d’água, perfumes franceses que substituíram os produtos de limpeza fez-se uma legião. Estavam empenhados em encontrar o que de fato trazia o mau-cheiro para aquela residência. Foram dias, meses a procurar o que cheirava mal, mas não aparecia.

Aos poucos o cheiro foi vencendo, os moradores desistindo e os habitantes do apartamento onde tudo começou insistiram. Continuaram a busca incansável pelo apartamento e juraram não desistir até que encontrassem o causador do fedor. O banheiro não estava entupido, nem mesmo restos de excrementos na bacia. Cestos de lixos mantinham-se vazios. Restos de comidas nas panelas não se apresentavam, nem mesmo comida havia naqueles dias, pois não eram capazes de ingerir o alimento de cada dia devido ao mau cheiro.

Pelo menos os habitantes daquele apartamento começaram a se higienizarem com regularidade, a se utilizarem de produtos de limpeza, não acumular alimentos nas pias e adjacências. A casa parece que depois de alguns meses sofreu com um tufão. O que ainda incomodava era o fedor. Ao resolver procurar num dos cantos do sofá de dois lugares, o cheiro pareceu atordoar. Era ali que se encontrava o fedor. Lembraram-se do bebê que ali esteve e fez xixi naquela poltrona. Como adiaram colocar o sofá no sol e lavá-lo devido à chuva que caía sem parar se acostumaram com o odor esquecendo-se de que o mau-cheiro era resultado do produto infantil.

Nenhum comentário: