segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Marido que ronca, amante que...

Quando ela acordou o marido estava do lado roncando para variar. Ela o fitou com aquele olhar, ainda sonado, desejosa de que era apenas um sonho, longe da realidade. Mas não, a realidade era nua e crua e seu marido estava ali do seu lado dormindo profundamente e roncando.

Como seria gostoso ter um marido que a amasse de verdade, que não roncasse e que fizesse o papel de amante. Talvez aí deva estar impregnado um pouco do veneno das amigas que a incentivava a procurar outros horizontes. Cheia de princípios a moçoila nunca foi lá de tirar os pés de seu barco. E não seria agora casada, abençoada pelas forças espirituais, que aquela mulher regida ao olhar severo de mãe e pai jogaria água fora da bacia.

Tentada a cometer tal desatino ela prolongava o que mais cedo ou mais tarde tornar-se-ia emergente. Passou a sair mais com as amigas, tomar mais bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas, e por fim não mais avisava o seu esposo das suas andanças. Não era um casamento liberal, porém o marido parece que não valorizava o material que tinha em casa, despreza sua mulher, preocupava-se mais com o emprego e à noite os olhos corriam o televisor, enquanto não se cansavam e se destinavam à cama. Convenhamos: mulher nenhuma agüenta. Mesmo que ame o seu companheiro. Nem mesmo estas que vivem em castelos de papéis e que durante as madrugadas tomam as formas mais absurdas e atacam os cordeiros mais desatentos, afastados do grupo, suportam esta situação. E o ronco agravava a relação. Se bem que os maridos das outras amigas não roncavam, mas elas insistiam nos desatinos, saiam, bebiam e traiam. Fazer o quê? Elas diziam.

Procurar um amante era uma obrigação. Desejo não mais. Projetou o perfil do garoto. Teria que ser amável, não trabalhasse muito, gostasse de sair mais, de fato ela queria um garotão como suas amigas. Tratou de olhar mais dos lados, passou a freqüentar mais essas baladas eletrônicas, até funk ela aprendeu a dançar. Por sorte não tinha filhos, pois imagine a decepção dos pupilos ao vê-la arrebitar a bunda e requebrar na velocidade seis. Uma verdadeira Melancia.

Dançou tanto que encontrou, não foi lá aquele que ela esperava, mas... Ele havia saído a pouco dos ofícios militares, não trabalhava, era “bombado” e prometera voltar a estudar, pois não terminara o Ensino Médio. Gostava da dança carioca (não é o samba) e o mais importante: afirmava não roncar. Ela ainda não o conhecera intimamente, mas foi logo tratando de dar uma chance ao guri.

Durante semanas saíram às escondidas, distantes das amigas, algo mais intimo para que pudessem afetivar-se. Ela pediu o divórcio e o marido não fez mistérios, tratou logo de assinar os papéis e dormir sossegado, sem alguém que pudesse falar do seu ronco, pelo menos por enquanto. Ela escancarou sua relação, surpreendeu as amigas (que A-D-O-R-A-R-A-M), quase matou os pais, e foi morar com o garoto. Surpresa para alguns, principalmente aos mais velhos, mudança de paradigmas para os mais novos que passaram a admirá-la. Resolveu se casar, assumiu as responsabilidades pelo vestido branco (a cor deveria ser usada pelo garoto), comprou as flores, fez aquela festa, convidou toda cidade e partiu em lua de mel.

Voltou uma semana depois desconsolada. Ele mentira a ela, roncava muito mais que seu ex. Ela não esperou o tratamento que ele havia lhe prometido, nem mesmo o tempo que esperara ao lado do seu ex-marido.


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