sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um solilóquio para a vida

Depois que reescrevi o meu texto “A arte necrófila” fiquei imaginando e divagando sobre a morte. Andei lendo dois textos, um do jornal “O Estado de S. Paulo” na seção “Caderno 2” sobre o filme “Além da Vida” do ator e diretor Clint Eastwood e outro, na verdade uma carta, de Gabriel Chalita para o Padre Fábio de Melo. A reflexão do tema desperta a eternidade, viaja para lugares nunca dantes habitados, o que será que nos espera?

Vi que há muitas formas de morrer e a solidão é uma delas. Viver só é estar contemplando o nada, a espera daquele dia que não chega. Não se abre para o mundo e muito menos não recebe absolutamente nada dele. Estar num solilóquio, que no máximo fará nascer um texto publicado ou não.

Acordei com uma dor de cabeça que me acompanha há décadas e fui logo recepcionado por uma música, que nada tinha de sertanejo, mas se apelidava assim. O som atingia o topo da escala sonora admissível para o ser humano e o seu amante cantarolava como aquele que deseja amar. Durante horas o LP tocou em uma sonata velha, por diversas vezes a “bolacha” rodou e diminuiu a solidão daquele coração partido amargurado pela morte de sua esposa. A solidão desta vez não fora proposital, aconteceu acidentalmente. Sua mulher morrera devido um acidente automobilístico e o marido sobrevivera. Mais tristeza. A solução seria ter partido junto à esposa e não mais sofrer com aquela dor que engasga, aprisiona o grito que se entala na garganta.

Compreendi o que se passava naquela cabeça, compreendia tanta amargura, o fechar-se para o mundo. Não cumprimentar vizinhos é um sinal desta solidão. A música é uma forma de aliviar este estar só. Seria como um remédio que diminui a dor, mas não soluciona o problema. Quantos solitários vivem enchendo-se de música em busca do alívio para dor? São muitos, inúmeros, milhões, que sem sucesso se fecharam para o mundo procurando uma resposta para aquilo que não tem explicação: a morte.

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