quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Almas, pedras, estrelas, enfim a escrita

Não me sinto seguro ao ver aquele texto exposto sem ao menos o olhar do ourives atento passado sobre ele. Não é da minha pessoa que falo, descrevo-o, escritor que todas as noites quando escrevo sai do jardim, mais precisamente da conjunção de “Damas-da-Noite”, exaladoras do perfume mais envolvente, e vem ao término das minhas palavras criticá-las.

Suas palavras são duras, mas me comovem, fazem com que o meu estilo adormecido desperte. Diz para não perder tempo com as correções gramaticais, mas que me ligue no encontrar dos vocábulos, no minimizar dos períodos extensos, nas palavras mais doces e amenas quando tratar de assuntos trágicos. Fico feliz, mas ao mesmo tempo me distraio em divagações e acho que não sei escrever. Pretensão minha se dissesse que soubesse. Sou um ser em infinitude complementar, anseio sempre mais. Às vezes surgem as pedras, como aquela imposta por Drummond na sua intrigante poesia, tento superá-la, saltar como fez uma das personagens das charges de Quino, mas parece que uma força maior me atormenta atrapalhando a desenvoltura do texto. Os tecidos parecem não combinar, meu sangue parece borbulhar e as palavras em minha mente atrapalham-se. De fato, não sei escrever. Anseio pelo poder dos grandes, estrelas que se lançaram a este ofício e conseguiram trilhar o seu caminho com uma escrita envolvente, apaixonante. Deliro até hoje quando leio as crônicas confeccionadas por Rubem Braga e os apaixonantes relatos sociais de Lima Barreto. Não poderia ser como eles? Por que não sou? E lá vem ele impondo-me com seu manto a sua sabedoria ao criticar-me mais uma vez: “falas muito e escreves muito pouco, ouça mais, aconselhe-se mais, fale depois, agora apenas escreva”. Começo mais um texto, é muito por terminar, parece não quererem ser finalizados. Ele me orienta, dá os sinais, tento, mas não consigo. Aquela alma me alimenta, cita alguns livros, pede-me um templo para reclusão. Acato a decisão. Saio, subo para aquela montanha verdadeira, em meio aquele belo jardim, lá me deito contando as estrelas em noite de céu iluminado, mais parece junho, mas é janeiro e a noite superou as nuvens escuras expostas pelas chuvas e me adiantou: a hora é agora.

O texto parece que não saiu, mas me esforcei, acreditei que seria capaz de escrever.

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